O Estado de S. Paulo

Governo libera R$ 2,7 bi a municípios, mas prefeitos consideram ‘insuficien­te’

‘Se PIB crescer 2%, merecemos aplauso’

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Em busca de uma agenda positiva, o presidente em exercício, Michel Temer, anunciou ontem, como ‘bondade’, um repasse de R$ 2,7 bilhões para os municípios. O pagamento, no entanto, é previsto em lei. Trata-se do Fundo de Particip a ç ã o d o s Mu n i c í p i o s (FPM), recurso cuja distribuiç­ão é automática e está previsto na Constituiç­ão. Os prefeitos saíram da reunião se dizendo decepciona­dos porque esperavam um valor superior e já ameaçam levar a questão aos tribunais.

Eles contavam com um repasse de R$ 3,4 bilhões, por causa de uma emenda à Constituiç­ão aprovada em 2014, que elevava o valor do FPM. A diferença, resultado de interpreta­ções diversas dessa legislação, provocou uma queda de braço. As prefeitura­s alegam que o governo federal deveria ter elevado o valor do repasse em 1%, mas aumentou apenas 0,75%. O erro teria sido cometido também em 2015. O governo, por sua vez, afirma estar cumprindo rigorosame­nte a lei.

“Se alguém virar ficha suja, o culpado é a União. Não dá para ficar dando golpe nos municípios como no ano passado”, disse o vice-presidente da Confederaç­ão Nacional de Municípios (CNM), Glademir Aroldi. “Não estamos pedindo benefício e sim buscando o que é de direito para atender aos serviços básicos. É claro que essa diferença não resolve nosso problema, mas é um direito nosso.”

Mas, em seu discurso, que foi feito ao final da reunião e, por isso, não permitiu réplica, Temer apresentou o pagamento como um ato de generosida­de. “Convenhamo­s, talvez a situação econômica do País não permitisse que nesse momento viéssemos a liberar aquilo que hoje está sendo liberado”, disse o presidente. “Mas a nossa convicção, digamos, doutrinári­a, ideológica em relação à necessidad­e dos municípios, é que nos faz fazer esta liberação.”

Ao final do discurso, Temer disse esperar que os prefeitos saíssem da reunião “de um lado, comemorand­o e, de outro, com a ideia de que devem continuar postulando, mas, fundamenta­lmente, divulgando as ideias do governo central (de que os problemas econômicos estão sendo pontualmen­te resolvidos).

Em entrevista ao Broadcast, notícias em tempo real do Grupo Estado, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha – que havia gravado um vídeo dizendo aos prefeitos que Temer teria “uma grande notícia” –, reconheceu que o governo não está fazendo um favor aos municí-

Ao discursar ontem para um grupo de prefeitos, o presidente em exercício Michel Temer afirmou ter ficado preocupado ao ler a informação de que o País pode crescer 2% no ano que vem. “Aliás, ontem, viu Meirelles, eu vi uma notícia que até me preocupou um pouco, pelo exagero. Porque dizia que no ano que vem o PIB crescerá 2%, no mínimo”, disse, dirigindo-se ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. “Se isso acontecer temos de ganhar o aplauso nacional.”

pios. Mas afirmou que não é correta a interpreta­ção do CNM. “A decepção e o constrangi­mento manifestad­os pelo CNM são contra o texto da emenda 84/2014 e não resta nada a fazer que não seja obedecê-la.”

A lei.

Pelo artigo 2.º da emen- da constituci­onal aprovada em 2014, a União fica obrigada a entregar ao FPM 0,5% a mais do produto da arrecadaçã­o do Imposto de Renda e do Imposto sobre Produtos Industrial­izados no primeiro exercício em que a emenda gerar efeitos e mais 0,5% a cada exercício até que se alcance 1%.

“O que pagamos foi o 0,5% de junho a dezembro, que é o primeiro exercício, e 1% de janeiro a junho, que é o segundo exercício”, disse Padilha. A mesma explicação foi dada pela Secretaria do Tesouro Nacional.

“Fui prefeito, presidente da Associação Regional de Municípios, presidente da Federação dos Municípios do Rio Grande do Sul, e presidente do Conselho Brasileiro de Integração Municipal, onde estava incluída a CNM. Sei da luta e das dificuldad­es dos municípios, mas lei é lei e, no caso, o governo cumpriu rigorosame­nte o texto legal”, reforçou o ministro. /

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO-24/5/2016 Apoio. Temer pede que ideias do governo sejam divulgadas

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