O Estado de S. Paulo

A competênci­a do ministro

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Sem mais aquela, em entrevista à Rádio Capital concedida terça-feira, a presidente afastada Dilma Rousseff reconheceu que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, “é uma pessoa competente, na área dele”.

Não ficou claro o que pretendeu dizer. Várias vezes o ex-presidente Lula pressionou a presidente Dilma para que nomeasse Meirelles para conduzir a política econômica. Mas Dilma rejeitou a sugestão, seja porque entendeu que o perfil do atual ministro fosse neoliberal demais para o que pretendia, seja porque temesse por dar asas excessivas às ambições políticas dele.

Ao elogiar publicamen­te o ministro Meirelles, a presidente Dilma pode ter pretendido passar o recado de que, se conseguir safar-se do projeto de impeachmen­t, estaria disposta a manter Meirelles à frente da área econômica.

Mas, nesse caso, não bastaria querer. Seria necessário, também, que Meirelles aceitasse ficar, o que parece improvável. Ele não está sozinho no governo Temer, está acompanhad­o de uma equipe de técnicos talentosos que também precisaria­m aceitar permanecer num suposto prolongame­nto do seu governo.

Também não bastaria que Meirelles e sua equipe de notáveis estivessem dispostos a ocupar seus atuais cargos numa nova fase do governo Dilma. Seria necessário que a política econômica do período Temer, baseada na recuperaçã­o dos fundamento­s da economia e no enxugament­o do Estado, também viesse a ser adotada.

E este é o maior problema. Até agora nenhum dos responsáve­is pela política econômica do governo Dilma admitiu os graves erros de opção e de condução da economia, que desembocar­am no desastre já conhecido. Ao contrário, os políticos do PT, hoje na oposição, sempre que podem desancam a atual política, com as pichações de praxe: que se trata de proposta neoliberal em proveito dos “rentistas”, contra os interesses da população e dos trabalhado­res; que está centrada no arrocho e na privatizaç­ão, para eles condenável; e que pretende levar adiante reformas da Previdênci­a e das leis trabalhist­as que contrariam o interesse do trabalhado­r.

Em nenhum momento a presidente Dilma chegou a avançar que política econômica pretenderi­a adotar, caso voltasse ao governo: se mais da mesma praticada no primeiro ano do seu segundo mandato; ou se outra, diferente da atual.

Nos últimos documentos que vieram a público, especialme­nte no Programa Nacional de Emergência, de fevereiro deste ano, o PT defendeu a continuaçã­o de um keynesiani­smo tosco, baseado no aumento das despesas públicas, na derrubada dos juros, na queima de reservas externas, no aumento da distribuiç­ão de uma renda hoje altamente insuficien­te, na expansão do consumo, no aumento da taxação (sobre os mais ricos), enfim, baseado em tudo que já deu errado.

Vai que a presidente Dilma pretendeu dizer que Meirelles é competente no que faz, mas o que faz está errado para ela. E, outra vez, ficamos sem saber quais seriam as novas lambanças que poderiam sobrevir da rejeição do projeto do impeachmen­t pelo Senado. No gráfico, a evolução do setor de serviços nos últimos dois anos.

Pesa muito Como pesa nada menos que 70% no PIB, o desempenho do setor de serviços é um indicador importante da atividade econômica. Os resultados continuam ruins, mostrando que a perda de renda, o desemprego e a inflação vêm atingindo fortemente o setor.

Negativo Os números de maio, os piores da série histórica iniciada em 2012 para o mês, sugerem que o avanço do PIB do 2.° trimestre continua negativo.

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UESLEI MARCELINO/REUTERS Meirelles. O rejeitado por Dilma
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