O Estado de S. Paulo

UMA CESTA QUE NÃO É TÃO BÁSICA ASSIM

Governo avalia acabar com a desoneraçã­o de ‘itens de luxo’, como salmão, truta e bacalhau

- Rachel Gamarski Lu Aiko Otta /

Uma cesta básica – não tão básica assim – entrou na mira da equipe econômica. Além de arroz, feijão e açúcar, itens de “luxo” como salmão, bacalhau, truta e o atum do Atlântico (para citar alguns exemplos) têm tributação zero desde 2013, quando o governo de Dilma Rousseff editou uma medida provisória para beneficiar “a população mais pobre”, fragilizad­a pela alta de preços, desonerand­o a cesta básica.

Em entrevista ao Estado, no domingo, o ministro da Fazenda Henrique Meirelles citou o salmão como “item de luxo” que foi incluído nesta cesta e poderia ter a alíquota de PIS-Cofins elevada – hoje é zero. A taxação desses produtos é uma das alternativ­as da equipe econômica para reforçar os cofres públicos em 2017. Na entrevista, o ministro brincou: “outro peixe não serve?” Hoje, o quilo do salmão fresco inteiro custa R$ 50.

Nos seis primeiros meses do ano, o Brasil já gastou perto de US$ 200 milhões importando 32 mil toneladas de salmão do Chile, o principal fornecedor do País. Segundo as estimativa­s da Receita Federal, o governo dei- xará de arrecadar este ano R$ 18,5 bilhões por causa da desoneraçã­o de PIS-Cofins da cesta básica. “Em termos de IPCA, essa desoneraçã­o que o governo concede nem sempre chega para essas famílias menos abastadas”, disse o economista Fábio Romão, da LCA Consultore­s.

A desoneraçã­o da cesta, adotada em 2004 e ampliada ao longo dos anos, beneficia itens como feijão, arroz, farinha de mandio- ca, batata-doce e milho além de leite. E produtos de higiene e limpeza, como sabão e fio dental.

As carnes e os peixes inclusive na forma de filé, foram incluídos na lista de produtos com PIS-Cofins zero em 2013, com a edição da Medida Provisória 609, depois convertida na Lei 12.839. Já na época, ela causou polêmica por incluir itens de luxo, como filé mignon e miúdos de aves, inclusive fígado de ganso.

Para justificar, o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, alegou que “uma complexa conjugação de adversidad­es econômicas nacionais e internacio­nais” estava provocando o aumento dos preços, “fragilizan­do a população mais pobre”.

Enviada ao Congresso, a lista de produtos da cesta básica disparou, por causa de emendas apresentad­as por parlamenta­res. Foram incluídos, por exemplo, camarão e mortadela. E uma infinidade de itens não comestívei­s, como material escolar, fraldas geriátrica­s, dentaduras e tijolos. Os acréscimos foram vetados por Dilma Rousseff.

A lista de produtos com PIS-Cofins zero é mais antiga. Seis tipos de queijo mais comuns estavam desonerado­s desde 2005. O provolone entrou para esse rol em 2007 e o queijo do reino, em 2012.

O salmão, disse Meirelles, é um exemplo pequeno do que pode ser feito para elevar tributos – se for o caso. O aumento de impostos está em estudo, mas constitui o que o ministro chama de Plano “C”.

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