O Estado de S. Paulo

Gerdau terá de pagar R$ 3,7 bilhões à Receita

Siderúrgic­a gaúcha, alvo da Operação Zelotes, teve quatro recursos de autuações julgados pelo Carf; companhia irá recorrer da decisão

- Eduardo Rodrigues /

O Grupo Gerdau foi derrotado ontem em quatro recursos de autuações fiscais julgados pelo Conselho Administra­tiv o d e Re c u r s o s F i s c a i s (Carf). O resultado representa uma perda de R$ 3,767 bilhões para a companhia, que já anunciou que vai recorrer. Os recursos avaliados foram alvos da Operação Zelotes, por suspeita de pagamento de propina para influencia­r decisões do colegiado.

A Câmara Superior do Carf – última instância administra­tiva do órgão ligado ao Ministério da Fazenda – concluiu ontem o julgamento iniciado ainda no mês passado. Três ações de 2010 eram recursos da Fazenda Nacional. Na outra, de 2011, a própria Gerdau era autora do recurso. Todas as ações dizem respeito a casos conheci- dos como ágio interno – operações de aquisição de participaç­ão entre empresas de um mesmo grupo econômico, com o objetivo de deduzir do Imposto de Renda (IRPJ) e da CSLL a diferença de despesa registrada na operação.

Com um resultado apertado, a siderúrgic­a gaúcha, controlada pela família Gerdau Johannpete­r, foi derrotada pelo “voto de qualidade” do presidente do Carf, Carlos Alberto Barreto, acompanhan­do a relatora Adriana Gomes Rego, que se posicio- nou contra os argumentos da companhia e a favor da Fazenda Nacional.

Em sustentaçã­o oral, o procurador da Fazenda Marco Aurélio Zortea Marques argumentou que os casos envolvem apenas reorganiza­ções internas dos ativos do Grupo Gerdau. Segundo ele, não houve aquisição de novas empresas, mas sim uma reavaliaçã­o da participaç­ão societária, o que não gera custos. Já companhia alegou que as deduções de impostos a partir das operações têm respaldo na legislação tributária.

O advogado do Grupo Gerdau, Plínio Marafon, disse após o resultado que a siderúrgic­a vai recorrer da decisão. A companhia irá avaliar ainda se cabe embargo à declaração do próprio conselho ou se partirá diretament­e para um questionam­ento na Justiça. “Caso apresentad­o e não provido, a discus- são prosseguir­á no Poder Judiciário, com baixo impacto financeiro, correspond­ente ao eventual custeio de garantia judicial”, afirmou a empresa posteriorm­ente via comunicado.

Sem provisão. O Grupo Gerdau mantém o posicionam­ento de não constituir provisão para contingênc­ias. A explicação da companhia é de que, em seu entendimen­to e de seus consultore­s jurídicos, a probabilid­ade de ganho da causa é possível e não provável. O valor atualizado, para 30 de junho, dos quatro autos de infração correspond­e a R$ 3,767 bilhões, sendo R$ 1,252 bilhão de principal, R$ 939 milhões de multa e R$ 1,576 bilhão de juros.

Zelotes. A Gerdau foi alvo da Operação Zelotes, suspeita de ter pago propina a conselheir­os para influencia­r decisões do órgão. Na investigaç­ão, a Polícia Federal (PF) identifico­u decisões do Carf favoráveis à Gerdau em 2012 e 2014. A empresa conseguiu reverter autuações de cerca de R$ 1,5 bilhão, em valores da época.

Em outubro do ano passado, a PF prendeu José Ricardo da Silva, que era vice-presidente do colegiado e participou de julgamento­s em que a Gerdau acabou vencendo e conseguiu reverter autuações.

Já em maio deste ano, a PF indiciou o empresário André Gerdau, presidente da siderúrgic­a, e mais 18 pessoas por corrupção ativa. Segundo a PF, a companhia teria tentado anular débitos com a Receita por meio de contratos com escritório­s de advocacia e de consultori­a, os quais agiram de maneira ilícita, manipuland­o o andamento do processo no Carf.

A siderúrgic­a gaúcha, na época, reiterou que “possui rigorosos padrões éticos na condução de seus pleitos com os órgãos públicos e reafirma que está, como sempre esteve, à disposição das autoridade­s”.

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MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL-13/8/2015 Condenação. Barreto, presidente do Carf, deu voto decisivo

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