O Estado de S. Paulo

Fabricante­s buscam mudar lei para tentar diminuir perdas com Abengoa

- Renée Pereira

A situação financeira da espanhola Abengoa no Brasil tem provocado uma corrida na Justiça e nos corredores do Congresso Nacional. Todos estão em busca de uma solução para reduzir os prejuízos causados pela empresa, que entrou em recuperaçã­o judicial em janeiro e paralisou várias obras. As reivindica­ções vão de simples cobrança de aluguel de imóveis em atraso até contas bilionária­s com fabricante­s de equipament­os.

Com mais de uma dezena de obras espalhadas Brasil afora, a empresa tem cerca de R$ 1 bilhão de equipament­os contratado­s com 20 fabricante­s no mercado interno. Uma parte já foi entregue e está parada nos canteiros de obras do grupo espanhol. O restante continua nos pátios das fabricante­s, que não sabem o que fazer com as máquinas – muitas delas feitas exclusivam­ente para os projetos.

Se a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) declarar a caducidade das concessões da empresa por descumprim­ento dos cronograma­s de obras, os contratos firmados automatica­mente deixam de valer. Numa nova licitação, caberá ao vencedor escolher se quer ou não continuar com o fornecedor. Por isso, os fabricante­s correm para tentar mudar o rumo da história.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, afirma que o setor tem trabalhado para aprovar uma emenda à Medida Provisória 735, que trata de assuntos de energia elétrica. A proposta é permitir que a agência reguladora possa relicitar as linhas de transmissã­o da Abengoa alterando a Receita Anual Permitida (RAP), que é a remuneraçã­o das empresas de transmissã­o.

O argumento de Barbato é que o cenário econômico atual é diferente daquele existente na época dos leilões, que permitiram deságios elevados. Um investidor hoje, diz ele, não vai querer uma obra nas condições do passado. “Se não tiver uma nova RAP, o governo não consegue relicitar essas linhas. Com a MP, a Aneel poderá por o projeto em licitação com o avanços que já foram feitos, como as licenças ambientais e os terrenos que comprados para o direito de passagem da linha.”

O diretor geral da Aneel, Romeu Rufino, no entanto, não defende essa saída para o proble- ma da Abengoa. “Não vejo condições para isso e não estimulo.” Segundo ele, a melhor alternativ­a seria uma solução de mercado, como a venda dos ativos. Como até agora nenhum negócio foi fechado, a agência deu andamento ao processo de caducidade das concessões da empresa. “Se aparecer algum comprador, suspendemo­s o processo. Caso contrário, até meados de agosto concluímos essa etapa e enviamos o processo ao Ministério de Minas e Energia (que decidirá o que fazer).”

Segundo ele, por causa da paralisaçã­o das obras da Abengoa, a agência vai autorizar alguns reforços na rede. Outros terão de conviver com os prejuízos pela não entrega do projeto. “A Abengoa será severament­e punida. Vai responder pelo que fez. Foi muito sério.” Para tirar os projetos do papel, a espanhola sempre teve o apoio do Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES), que concedeu vários empréstimo­s para a empresa – no mercado falam em R$ 3 bilhões.

Num dos últimos financiame­ntos, às vésperas de a matriz anunciar a recuperaçã­o judicial na Espanha, o banco de fomento liberou quase R$ 200 milhões em setembro do ano passado para um projeto entre o Ceará e o Rio Grande do Norte. Os financiame­ntos foram concedidos para as SPEs (Sociedade de Propósito Específico), empresas criadas para projetos específico­s, que não estão na recuperaçã­o judicial

São essas empresas que têm sido alvo de ações judiciais em diversas partes do País. Numa pesquisa nos Tribunais de Justiça de vários Estados, as SPEs do grupo espanhol têm inúmeras questionam­entos, a maioria por falta de pagamento. No interior de São Paulo, por exemplo, proprietár­ios de imóveis recorreram aos tribunais para receber o pagamento atrasado de alugueis. Há até pedido de despejo de unidades do grupo espanhol.

 ?? DIVULGAÇÃO ?? Processo. Grupo de energia entrou em recuperaçã­o judicial na Espanha, no fim de 2015
DIVULGAÇÃO Processo. Grupo de energia entrou em recuperaçã­o judicial na Espanha, no fim de 2015

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil