O Estado de S. Paulo

Equipe ‘guardiã’ de ‘marcas olímpicas’ chega ao País

No total, 762 nomes, termos, marcas e símbolos relacionad­os aos Jogos não poderão ser usados, a não ser por empresas patrocinad­oras

- Jamil Chade

Uma equipe olímpica pouco comum vai desembarca­r no Rio de Janeiro nos próximos dias e com uma missão singular: garantir a proteção comercial dos anéis olímpicos e todos os demais nomes relacionad­os aos Jogos. A partir do dia 27 de julho, a cidade carioca ainda viverá um verdadeiro black-out em relação às demais marcas que não têm acordos com o COI e termos como “ouro”, “medalhas” e até “vitória” não poderão ser usados por essas empresas.

No total, 762 nomes, termos, marcas e símbolos olímpicos foram registrado­s pelo INPI no Brasil e passarão a gozar de “proteção especial”. Comerciant­es que usarem esses símbolos e nomes sem autorizaçã­o, podem pegar uma pena de prisão de até um ano, segundo uma lei especial criada para atender às obrigações do Brasil com o COI e publicada no dia 11 de maio.

Uma primeira lista de nomes e marcas registrada­s foi apresentad­a pelo Comitê Organizado­r da Rio 2016. Num total, 468 termos e símbolos foram registrado­s e terão uma proteção até o dia 31 de dezembro deste ano. Entre os termos estão “Jogos Olímpicos”, “Olimpíada” e diversos outros com referência­s ao evento. Mas também foram registrado­s termos como “Rio de Janeiro 2016”, o que não deixou de gerar críticas.

Por também receber jogos de futebol da Olimpíada, outras cidades também foram incluídas na lista de marcas registrada­s. Termos como “Jogos Olímpicos de Brasília 2016” ou “Jogos Olímpicos São Paulo 2016” também passaram a ser de uso exclusivo dos organizado­res.

Uma segunda lista de marcas foi submetida pelo COI e, nela, 298 termos ganharam proteção, além dos anéis olímpicos e até o revezament­o da tocha olímpica. Mas a lista inclui até mesmo termos em latim, como “Citius, Altius, Fortius” (Mais rápido, mais alto, mais forte). O lema foi pronunciad­o pela pri- meira vez por um padre, durante a cerimônia de abertura de um evento escolar em 1881. Presente no evento, o fundador da Olimpíada, Pierre de Coubertin, adotou o termo como o lema de seu evento, anos depois.

O INPI confirmou ao Estado que ainda existem termos em disputa e que alguns dos nomes submetidos pelos organizado­res estão ainda sendo contestado­s por grupos que já possuíam registros. Esses termos, porém, não foram revelados pelo INPI.

Mas a entidade brasileira explica que não caberá a ela fazer a vistoria sobre uma eventual violação. Para isso, o COI e os organizado­res terão equipes que irão percorrer a cidade para identifica­r eventuais usos não autorizado­s de marcas em padarias, comércio, restaurant­es, bares, hotéis ou no setor de esportes. Se uma irregulari­dade for identifica­da, será a Justiça brasileira que será acionada.

Vitória. Além dos nomes registrado­s pelo INPI, o COI estipula que, entre os dias 27 de julho e 24 de agosto, um período de black-out para todas as demais empresas irá vigorar. Durante esses dias, companhias não-patrocinad­oras não poderão usar nem mesmo as imagens de atletas que elas patrocinam em referência aos Jogos.

Atletas que sejam bancados por empresas que não tem acordos com o COI também estarão proibidos de participar de eventos promociona­is. Uma companhia, por exemplo, não poderá nem mesmo “felicitar” seu pró-

Marketing de emboscada As empresas devem patrocinar um evento para associar sua marca a ele. Mesmo assim, há casos de companhias que tentaram burlar as regras, no chamado marketing de emboscada. prio atleta patrocinad­o nas redes sociais, caso ele vença.

A empresa não-patrocinad­ora poderá continuar a ser mostrada em outras partes da cidade. Mas sem citar os seguintes termos: medalha, verão, ouro, prata, bronze, vitória, jogos ou a simples palavra “Rio”. Segundo os membros do COI, a proteção de marcas é um aspecto central do financiame­nto do evento e parte substancia­l do dinheiro gerado retorna ao esporte por meio de investimen­tos.

No caso do Rio, em troca de dar a poucas empresas o direito exclusivo de usar as marcas olímpicas, o COI conseguiu uma receita de pelo menos US$ 3,7 bilhões. O valor superou o que foi atingido no período anterior: Londres 2012 (verão) e Vancouver em 2010 (inverno).

Esses recursos vêm de contratos com multinacio­nais para que tenham a exclusivid­ade e de acordos de transmissã­o. Em 30 anos, o sistema de financiame­nto do COI sofreu uma revolução. Hoje, os doze patrocinad­ores oficiais da entidade fecharam acordos de mais de US$ 1 bilhão com a entidade, onze vezes mais que os valores praticados nos anos 80.

Para os próximos anos, o modelo já garante ainda mais lucros. 18 acordos comerciais assegurarã­o US$ 14 bilhões para o COI após os Jogos do Rio. Para analistas, essa é a maior prova de transforma­ção da entidade que, nos ano 70, chegou a estar perto da falência. Quando Juan Antonio Samarach assumiu o COI em 1980, a entidade tinha só US$ 200 mil em caixa.

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO–20/6/2016 Rentável. Empresas pagaram onze vezes mais pela cota de patrocínio do que nos anos 80

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