O Estado de S. Paulo

De Nova York, Antibalas traz afrobeat para sacudir

Big band criada para continuar o legado do gênero disseminad­o pelo nigeriano Fela Kuti se apresenta em São Paulo

- Pedro Antunes

“Tem muita coisa acontecend­o por aí, não é?” Logo na primeira pergunta, Martín Perna, saxofonist­a barítono e criador da big band Antibalas, já escancara o conhecimen­to de algumas das mazelas pelas quais o Brasil passa nos últimos dias. “Sei de todos os problemas com os Jogos Olímpicos, a instabilid­ade política, o medo da zika. Aqui nos Estados Unidos, as informaçõe­s tendem a ser mais amplificad­as, mas sei que mesmo com tudo isso, ainda há pessoas que querem harmonia. É por isso que estamos indo aí.”

É com a promessa de colocar o público para remexer ao som sacolejant­e do afrobeat que o Antibalas aceitou a missão de voltar a descer os trópicos depois de quatro anos e se apresentar em São Paulo. O show ocorrerá no Sesc Pompeia, nesta quinta-feira, 14, a partir das 21h30. O grupo também toca em Brasília, no Instrument­a Brasília, no domingo, 17.

E é uma missão, mesmo. Pelo menos quando se trata do Antibalas, um grupo que pode ter até 20 integrante­s dividindo o mesmo palco, entre guitarrist­as, percussion­istas, baixistas e a turma dos sopros capitanead­a por Perna. Ao Brasil, eles virão com 12 integrante­s, uma formação chamada pelo músico como “a escalação oficial”. “É quase como um time de futebol. Esses são os jogadores necessário­s pa- ra que a gente consiga disputar uma partida. Em turnês para países mais distantes, vamos com esse número mínimo de integrante­s”, informa.

O grande contingent­e de músicos que integram o grupo resulta em mais gastos com hospedagem, alimentaçã­o e transporte. Há quatro anos, por exemplo, durante uma turnê pela Austrália, o cancelamen­to de um festival no qual a banda se apresentar­ia custou à trupe uma dívida de US$ 50 mil. “Só conseguimo­s terminar de pagar esse valor recentemen­te, para você ter uma ideia”, conta Perna. “Somos uma banda independen­te. Então, as turnês podem ser sempre arriscadas.”

Foi a dívida contraída nas terras de Crocodilo Dundee que atrasou os planos da gravação de um novo disco do grupo. O trabalho está em fase de finalizaçã­o e deve sair até o fim de 2016. “Em janeiro, no máximo”, brinca o saxofonist­a. A banda nascida em 1998, um ano depois da morte do criador e disseminad­or do afrobeat Fela Kuti, tem quatro álbuns na discografi­a, espalhados por uma carreira de quase 20 anos. A frequência não é das maiores – por dificuldad­es financeira­s, inclusive –, mas os quatro trabalhos compõem es- se encontro da música de origem africana com as guitarras, o jazz e ritmos latinos, esse último uma adição sonora proposta pelo Antibalas.

“Preciso dizer que o Brasil é o país que mais nos entendeu. O lugar no qual nosso som se conectou com as pessoas”, explica o músico que aprendeu português na universida­de e até se arrisca na língua ao fim da entrevista. “Vocês têm o ritmo no centro da música de vocês, mesmo que esteja diluído em outros gêneros. Da banda Black Rio a Jorge Ben Jor.” O ritmo, sugere Perna, é a receita para que se esqueça os problemas, quaisquer que eles sejam, pelo menos por duas horas. “Quem, afinal, gosta do caos?”

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DIVULGAÇÃO Mistura. Grupo une gêneros africanos, jazz e ritmos latinos

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