O Estado de S. Paulo

Símbolos

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Amoeda d e s v a l o r i z o u - s e tanto na Alemanha pré-nazista que, se dizia, era preciso um carrinho de mão cheio de dinheiro para comprar um pão. A imagem ficou e hoje, quando se quer dar uma ideia da economia alemã na época, evoca-se o carrinho de mão como uma espécie de símbolo do caos. Daria para imagi- nar como era o trânsito nas ruas, com os constantes engarrafam­entos de carrinhos de mão empurrados por fraus impaciente­s indo às compras. E voltando para casa com os carrinhos vazios, pois mesmo um carrinho abarrotado de notas não comprava muita coisa.

No Brasil acontece coisa (mais ou menos) parecida. Há dias ficamos sabendo que faltam tornozelei­ras eletrônica­s no País. Esgotou-se o estoque do dispositiv­o, se é que cabe o termo, que a Polícia Federal usa para rastrear os indiciados e os suspeitos e evitar que eles se mandem do Brasil ou simplesmen­te desapareça­m das telas. Não sei se as tornozelei­ras são fabricadas aqui ou se são importadas, mas tem gente enrique- cendo com elas como os fabricante­s de carrinhos de mão na Alemanha arruinada. Com a diferença que lá os carrinhos simbolizav­am uma crise econômica e aqui a falta de tornozelei­ras simboliza uma crise moral.

Há mais investigad­os pela Polícia Federal em liberdade condiciona­l do que tornozelei­ras para localizálo­s. Ter tornozelei­ra enquanto outros estão na fila de espera pode até ser um sinal de status. Quem se queixar de não ter a sua pode muito bem ouvir como resposta:

– Desculpe, estamos em falta. Mas assim que vagar uma o senhor será notificado.

E ouvi dizer que em Brasília muita gente já incorporou a tornozelei­ra aos seus hábitos sociais.

– Precisamos marcar um almoço um dia desses!

– Claro. Minha tornozelei­ra ligará para a sua.

Não sei se a falta de tornozelei­ras já foi sanada. De qualquer maneira, nenhum outro país do mundo t e r á t i do uma e x peri ê nci a igual. Mais um título mundial!

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