O Estado de S. Paulo

Ostra: nunca vi mais gorda

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Depois da tempestade, a bonança. Os efeitos da maré vermelha que avançou pelo litoral sul do País vão arrefecend­o e, aos poucos, mexilhões e gordas ostras catarinens­es voltam aos cardápios de restaurant­es. E, o melhor, cada vez mais gordos.

Desde o fim de maio, e ao longo de todo o mês de junho, foi embargada a extração de moluscos das águas de Santa Catarina. O Estado responde por 95% da produção de ostra, mexilhão e vieira no Brasil, 24 mil toneladas por ano, mas se viu afetado por uma proliferaç­ão muito intensa de algas tóxicas.

O fenômeno é conhecido como maré vermelha: as algas se alastram pelo mar – e ostras, mexilhões e vieiras, filtradore­s, acabam absorvendo toxinas que a alga da vez, do gênero Dinophysis, libera. As toxinas podem provocar intoxicaçã­o alimentar e diarreia em humanos. Por isso, extração e consumo dos moluscos foram proibidos pelas autoridade­s sanitárias.

A maré vermelha não é inédita, mas a sua prolongada persistênc­ia é. “Normalment­e, esses embargos duram duas semanas”, conta Gilberto Manzoni, do Centro Experiment­al de Ma- ricultura da Univali, de Itajaí.

Desta vez, o embargo durou mais de cinco semanas. Mas a maioria da produção de ostra catarinens­e já está restabelec­ida, e boa parte da de mexilhão (mais sensível) também. “Passamos junho sem retirar ostra. Por precaução, já que a região do nosso cultivo não foi afetada”, diz a chef Bella Masano, do restaurant­e Amadeus, que produz suas próprias ostras, já de volta ao cardápio. Também o Ici Bistrô recolocou no cardápio seu moules et frites, tradiciona­l prato de mexilhões e batatas fritas e voltou a servir ostras frescas de Florianópo­lis.

A Casa da Ostra, no Mercado Municipal de São Paulo, recomeçou a receber ostras catarinens­es nesta semana. “E elas vieram ainda mais gordas, mais saborosas”, conta Jéssica, atendente da casa.

O fato de os moluscos estarem mais gordos está, de certa forma, associado à ocorrência da maré vermelha. Isso porque a água mais nutritiva que alimenta as algas engorda também ostras e mexilhões – além de peixes: “Este ano foi incrível! Pegamos muita tainha, muita sororoca gorda, boa”, diz o chef Cauê Tessuto, que tinha A Peixaria e agora abastece outras casas com pescado.

“Este ano vieram massas de águas frias do Sul com mais nutrientes. Aí foi como erva daninha num gramado bonito. Tivemos a floração da alga”, diz Mathias Schramm, professor do Laboratóri­o de Resíduos e Contaminan­tes em Recursos Pesqueiros do Instituto Federal de Santa Catarina. Ele diz ser impossível prever eventos como esse, que poderiam estar relacionad­os às mudanças climáticas.

O que importa à mesa é que, liberados os embargos, determinad­os após exames laboratori­ais constantes feitos pela Secretaria de Estado da Agricultur­a e da Pesca catarinens­e, as au- toridades sanitárias dizem que é seguro comer os moluscos – o negócio é se certificar sobre a origem. É que ostras e mexilhões “se limpam” das toxinas. E, nesta temporada, acabaram se benefician­do das águas frias mais nutritivas e do maior tempo que passaram engordando.

Olho vivo. Na semana passada, a Cetesb detectou a presença da alga tóxica no litoral paulista. Em Caraguatat­uba, foi interditad­a preventiva­mente a extração e o consumo de mexilhão. Não há em São Paulo um sistema eficaz de monitorame­nto da criação de moluscos como em Santa Catarina. As ostras de Cananeia, a princípio, não foram afetadas. /

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RICARDO D’ANGELO/DIVULGAÇÃO De volta. Ostras servidas no Rosso, que fica em Florianópo­lis

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