O Estado de S. Paulo

Partidos se tornam as principais fontes de recursos em capitais

De 37 candidatos em São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Salvador, 21 receberam mais da própria sigla do que de pessoas físicas

- Isabela Bonfim

Sem recursos de empresas e com baixa adesão de pessoas físicas às doações de campanha, os próprios partidos ajudam a financiar as eleições para prefeito nos quatro maiores colégios eleitorais do País. Levantamen­to feito pelo Estado aponta que 53% do valor doado aos candidatos veio das legendas. Preocupado­s com a sobrecarga do Fundo Partidário, presidente­s das siglas querem rever formas de financiame­nto de campanha.

O Estado analisou a arrecadaçã­o de todos os candidatos com dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que disputam em São Paulo, Rio, Salvador e Belo Horizonte. De 37 concorrent­es, 21 receberam mais doações do próprio parti- do do que de pessoas físicas.

A verba de campanha de quase metade dos candidatos é composta em mais de 70% por doações de partido. Dez superam a casa dos 90% e dois candidatos à prefeitura de Salvador foram 100% financiado­s por suas legendas: Cláudio Silva (PP) e Fábio Nogueira (PSOL). Ao todo, os partidos gastaram mais de R$ 10,6 milhões em campanha nessas cidades.

Dos R$ 48,5 milhões arrecadado­s em campanha nas quatro capitais, 35% vieram de doações de pessoas físicas. Em São Paulo, Fernando Haddad (PT), Marta Suplicy (PMDB) e Ricardo Young (Rede) arrecadara­m mais nessa modalidade. Mas metade dos dez candidatos da cidade recebeu verba maior de partidos políticos. Celso Russomanno (PRB), por exemplo, arrecadou R$ 3,7 milhões, sendo 92% com a própria legenda.

Recursos próprios somam 12% das doações nas quatro capitais. Apesar de 14 candidatos terem contribuíd­o para as próprias campanhas, os valores costumam ser pequenos. Dois concorrent­es são responsáve­is por quase todo o valor arrecadado com recursos particular­es.

Dos R$ 5,5 milhões nessa modalidade, R$ 2,4 milhões foram aplicados pelo tucano João Do- ria (PSDB), candidato a prefeito de São Paulo, enquanto R$ 2,1 milhões pertencem a Rodrigo Pacheco (PMDB), que concorre em Belo Horizonte.

Revisão. Políticos estão determinad­os a rever as formas de financiar campanhas. Com doações de empresas vetadas, os custos sobrecarre­gam o Fundo Partidário, segundo eles. “No momento em que praticamen­te a totalidade do Fundo Partidário passa a ser destinada às campanhas, as demais atividades ficam comprometi­das”, disse o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG).

O tucano destacou que o fundo tem outras finalidade­s – a manutenção das atividades partidária­s, a formação de quadros e o apoio a estudos – e ressaltou que é preciso “equilibrar a equação” entre doação de pessoas físicas e o uso da verba pública.

O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), disse acreditar que as pessoas não estão dispostas a doar para campanhas eleitorais e que o financiame­nto apenas com o Fundo Partidário não é suficiente. “Na prática, encerramos as doações privadas (empresaria­is) e não criamos a pública. Essa vai ser uma eleição de muito caixa 2.” Para o senador, a questão deve ser rediscutid­a no Congresso tão logo se encerrem as eleições.

O senador José Agripino (RN), presidente do DEM, elogiou o fato de as campanhas terem se tornado mais baratas, mas, segundo ele, as eleições vão trazer o assunto da arrecadaçã­o novamente ao debate.

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