O Estado de S. Paulo

‘Impeachmen­t foi tropeço’, afirma Lewandowsk­i

Ex-presidente do Supremo fez declaração em aula na Faculdade de Direito da USP; ministro comandou o processo no Senado

- Julia Lindner

O ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowsk­i lamentou o processo de impeachmen­t de Dilma Rousseff e qualificou o episódio como “um tropeço na democracia”. O comentário foi feito durante uma de suas aulas na Faculdade de Direito da Universida­de de São Paulo (USP), onde o ministro leciona Teoria do Estado.

Lewandowsk­i, como presidente do Supremo, foi o responsáve­l pela condução do julgamento de Dilma no Senado que culminou na cassação do mandato da petista. A gravação foi registrada na segunda-feira passada pela revista Caros Amigos.

Antes de encerrar a aula, Lewandowsk­i criticou o modelo do presidenci­alismo de coalizão, que considerou ser fruto da Constituiç­ão de 1989, com o aumento dos partidos políticos, mas também de um “erro” do Supremo, que acabou com a cláusula de barreira.

Também conhecida como cláusula de exclusão ou cláusula de desempenho, a cláusula de barreira é uma norma que impede ou restringe o funcioname­nto parlamenta­r ao partido que não alcançar determinad­o porcentual de votos.

“Deu no que deu. Nesse impeachmen­t a que todos assistiram e devem ter a sua opinião sobre ele. Mas encerra exatamente um ciclo, daqueles aos quais eu me referia, a cada 25, 30 anos no Brasil, nós temos um tropeço na nossa democracia. É lamentável. Quem sabe vocês, jovens, consigam mudar o rumo da história”, afirmou. Educação. Lewandowsk­i também criticou a iniciativa do governo Michel Temer de propor a reforma do ensino médio por meio de uma medida provisória, na semana passada, sem consultar a população.

“Grandes temas como o Estatuto do Desarmamen­to tiveram um plebiscito para consultar a população. Agora a reforma do ensino médio é proposta por medida provisória? São alguns iluminados que se fecharam dentro de um gabinete e resolveram tirar educação física, artes? Poxa, nem um projeto de lei não foi, não se consultou a população”, afirmou o ex-presidente do Supremo.

O ministro disse ainda que “o estado democrátic­o de direito é aquele que amplia direitos e complement­a a democracia representa­tiva mediante a participaç­ão popular”. Para Lewandowsk­i, “todas as leis importante­s” só deveriam entrar em vigor após um plebiscito ou um referendo regulado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O prazo, segundo ele, poderia ser estipulado em alguns meses pelo próprio TSE.

“A iniciativa legislativ­a tinha que ser facilitada também, pois o número de assinatura­s mínimo é praticamen­te impossível”, comentou com os alunos.

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VALTER CAMPANATO/AGÊNCIA BRASIL–27/9/2016 Ex-presidente. Ministro Ricardo Lewandowsk­i durante sessão do Supremo Tribunal Federal

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