O Estado de S. Paulo

‘Minha vida vale, por ano, R$ 2 milhões’, diz paciente

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A interrupçã­o do julgamento no Supremo Tribunal Federal, que não tem prazo para ser retomado, foi recebida com alívio por advogados e tristeza por pacientes. “O pedido de vista foi importante para tentar encon- trar uma visão mais uniforme”, afirmou o defensor público geral federal, Carlos Eduardo Paez. “Nos três votos proferidos, havia uma série de interpreta­ções distintas. Imagine se os 11 votos fossem concluídos hoje. Certamente haveria outros pontos a clarificar.”

Presidente da Associação Brasileira de Assistênci­a à Mucoviscid­ose, Sérgio Henrique Sampaio afirma que associaçõe­s deverão, a partir de agora, reforçar seu trabalho de convencime­nto de ministros que ainda não proferiram seus votos. “Deu certo até agora. Estamos otimistas de que vamos conseguir sensibiliz­ar os demais ministros”, completou Sampaio.

“Saí viva. Fiquei muito emocionada durante todo o julgamento”, afirmou a presidente da Associação de Familiares, Amigos e Portadores de Doenças Graves e Raras, Maria Cecília Oliveira, ao fim da sessão.

Exemplos. O j ul g a mento atraiu pacientes como Patrick Teixeira Pires, de 19 anos, que vive com mucopoliss­acaridose. “Minha vida vale R$ 2 milhões por ano. É o preço do medicament­o que tenho de usar”, repetia. “Mas minha situação é instável. Tive de ingressar com uma ação na Justiça. Durmo e acor- do pensando no risco de um dia o remédio faltar.”

Há vários outros exemplos pelo País. Diagnostic­ado com linfoma de Hodgkin em 2014, o músico Jailton Wenceslau, de 29 anos, conseguiu na Justiça, há sete meses, o acesso ao tratamento com um medicament­o de alto custo que não está disponível no rol do Sistema Único de Saúde (SUS). “Fiz quimiotera­pia e o transplant­e de medula, mas não deu certo. Conversei com os médicos e eles conhe- ciam o medicament­o mas, como o governo não fornece, eu não tinha acesso”, conta.

O músico resolveu buscar associaçõe­s de pacientes e entrou na Justiça para conseguir o Brentuxima­b – ele tem de tomar duas ampolas a cada 21 dias. “Cada uma custa entre R$ 12 mil e R$ 15 mil. Eu não teria condições de pagar. Tive uma evolução no tratamento, consigo andar tranquilo e o remédio me deu força. Estou melhor.”

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