O Estado de S. Paulo

Para renovar acordo, fundos de pensão e sócios privados da Vale travam disputa

A sete meses do vencimento do acordo de acionistas, grupo formado por fundações, que tem a maior participaç­ão no bloco de controle, briga por compensaçã­o financeira para manter o equilíbrio de poderes entre os sócios; Bradespar resiste a pagar o prêmio

- Mariana Durão Mônica Ciarelli /

A renovação do acordo de acionistas da Vale, que vence em abril do ano que vem, está pondo em lados opostos os sócios privados (Bradesco e Mitsui) e o grupo formado pelos fundos de pensão estatais e o Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES). O foco de tensão está em um pedido dos fundos para receber um prêmio de controle por um lote de ações, que, no passado, foi desvincula­do do atual acordo de acionistas. Além disso, a intenção é cortar pela metade a duração do novo acordo, para dez anos, apurou o ‘Broadcast’, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Hoje, o atual acordo equilibra os poderes entre os acionistas na Valepar, empresa formada pelos controlado­res da mineradora. Sem esse acordo, os fundos se tornam os maiores acionistas da Vale e os sócios privados passam a ter menos força para influencia­r os rumos da companhia. Para renovar o acer- to nas mesmas bases, entretanto, os fundos, liderados pela Previ, querem uma compensaçã­o. O ponto central do pagamento do prêmio diz respeito à manu- tenção do direito de veto.

Hoje, o bloco formado por Bradesco e a Mitsui soma 39,4% das ações com direito a voto (ON) da Valepar, o que garante a possi- bilidade de barrar matérias em que o acordo exige aprovação de ao menos 75%. É o caso de alterações no estatuto da Vale, aprovação de incorporaç­ão, fusão ou cisão, eleição do conselho, aprovação do plano de negócios e pagamento de dividendos.

A Bradespar, braço de participaç­ões do Bradesco, resiste a pagar o prêmio. As negociaçõe­s já tiveram idas e vindas, com a empresa mais propensa botar a mão no bolso. A chegada do executivo Sergio Clemente como representa­nte da Bradespar nas negociaçõe­s em 2014, entretanto, trouxe mais resistênci­a ao pagamento. Segundo duas fontes, em outra ocasião as partes estiveram perto de assinar a renovação por dez anos sem prêmio, mas a Previ recuou.

A Previ tem maior poder de fogo na negociação por deter 78,4% das ações da Litel, veículo que reúne as participaç­ões dos fundos (Previ, Petros, Funcef e Fundação Cesp) na Valepar. Além disso, é dona da maior parte de uma fatia de 9% transforma­da em ações sem direito a voto para atender à regra que limitou em 49% a fatia por acionista no bloco de controle. A medida foi adotada no estatuto para tirar a pecha de estatal da Vale, privatizad­a em 1997.

O fundo dos funcionári­os do Banco do Brasil quer dar liquidez a esses papéis esteriliza­dos, por isso exige o prêmio em dinheiro mesmo tendo a intenção de renovar o acordo. Seu poder de barganha na briga por esse ágio tem dois lados: a potencial recusa em assinar a renovação e a hipótese de uma cisão da Litel. A cisão assusta os demais sócios porque neutraliza­ria o limite de 49%. Como acionistas independen­tes, os fundos poderiam continuar votando alinhados, só que com mais força, já que têm 58,07% do capital da Valepar.

Uma fonte afirma que quanto mais tempo durar o acordo, mais alto seria o prêmio. Calculado com base no valor da Vale, ele poderia variar de 15% a 30%. Outra pessoa familiariz­ada com a disputa acredita que ficará próximo do piso, sendo quase um pagamento simbólico para justificar a renovação.

Apesar da queda de braço, pessoas próximas aos controlado­res avaliam que o acordo será renovado. Nos últimos anos os acionistas da Valepar aprovaram investimen­tos com retorno de longo prazo, como o projeto de minério S11D, de US$ 14,3 bilhões, que só entra em operação no fim do ano. “O acordo vai ser renovado porque isso interessa a todos”, diz uma pessoa ligada às discussões.

A permanênci­a do Bradesco e Mitsui é do interesse dos fundos, por afastar o fantasma da interferên­cia política, que penalizari­a os papéis da empresa. O Broadcast apurou que a intenção é estipular um prazo menor: dez anos, contra 20 anos do atual contrato. Bradespar, Mitsui e Previ não quiseram comentar.

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MARCOS ARCOVERDE/ESTADÃO - 24/3/2014 Duas décadas. Mineradora Vale foi privatizad­a em 1997

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