O Estado de S. Paulo

Filme revela o dia histórico dos Rolling Stones em Cuba

‘Havana Moon’, produção que documenta o show de Havana em março, tem exibição mundial no dia 6 de outubro

- Julio Maria

Os Rolling Stones escreveram, no último dia 23 de março, um capítulo que deve estar nas novas biografias sobre a banda a serem lançadas daqui em diante. Eles foram a Cuba quebrar alguns tabus em uma única noite, no castigado gramado da Ciudad Deportiva de Havana.

Mais do que realizar a primeira investida na Ilha castrista depois de 50 anos de carreira, os Stones se tornaram a primeira grande atração internacio­nal do rock a juntar uma multidão em Havana. Estiveram presentes mais de 1 milhão de fãs de três gerações: crianças que ouvem Satisfacti­on nas emissoras de rádio e na internet com liberdade irrestrita; jovens que não conheciam a sensação da catarse diante de um grupo de rock; e senhores emocionado­s por estarem vivos diante de um sonho.

Assim que Fidel chegou ao poder, em 1959, proibiu não só a veiculação dos Stones nas emissoras de rádio e TV como baniu toda e qualquer manifestaç­ão roqueira. A música que simbolizav­a a cultura imperialis­ta dominante não poderia ser mais tocada nem nas festas de 15 anos das garotas de Havana. O show de março, realizado uma semana depois da festejada passagem de Barack Obama pela Ilha, foi uma bandeira da vitória hasteada no quintal de Fidel. Enquanto seu regime abre concessões econômicas históricas para não definhar, Mick Jagger ainda rebola.

Os Stones sabiam do tamanho do feito e decidiram registrar quase tudo. Seis meses depois, eles lançam o filme Havana Moon – The Rolling Stone Live in Cuba, dirigido por Paul Dugdale, em cinemas do mundo no mesmo dia: 6 de outubro. A exibição será feita apenas pelas redes Cinemark, Cinépolis e UCI.

O filme traz quase todas as músicas do show e uma pequena porcentage­m de veia documental. Há uma breve entrevista no início, raro momento de ver Mick Jagger, Keith Richards, Charlie Watts e Ron Wood respondend­o a perguntas lado a lado. “Os Stones são capazes de fazer coisas que os governos não podem”, diz Richards, sempre o autor das melhores sacadas. “O Obama fez o nosso show de abertura”, falou sobre a coincidênc­ia de datas históricas. A apresentaç­ão começa então como começou em Havana, com Jumping Jack Flash, e segue sem surpresas: Honky Tonk Women, Paint in Black, Gimme Shelter, Angie, Satisfacti­on, You Can’t Always Get What You Want.

As câmeras do diretor Dugdale são colocadas muito próximas aos músicos, talvez a menor distância da história de seus filmes, o que garante uma sensação de se estar no palco o tempo todo. São flagrantes de detalhes, como Keith vibrando com a bateria de Watts no momento mais incendiári­o de Midnight Rambler ou o mesmo Keith, com os olhos marejados, dizendo incrédulo “Cuba! Isso é incrível”.

Mais câmeras indiscreta­s estão na plateia. Elas captam a emoção dos cubanos em suas expressões de entrega. Os mais velhos choram, casais se beijam e alguns dos mais novos experiment­am uma euforia incontrolá­vel. Quase ao final, um coro de cantores cubanos aparece no palco para fazer o clima crescente e grandioso de You Can’t Always Get What You Want. Estão todos ali, quatro Stones e 1,2 milhão de fãs cubanos passando como um trator sobre qualquer ideologia que, um dia, tentou separá-los.

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ALEXANDRE MENEGHINI/REUTERS Intactos. Show sob o mesmo regime que baniu o rock da Ilha

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