O pequeno cavalo branco de Bordeaux
Há um ditado que diz que nome é destino. A francesa Château Cheval Blanc, a casa do cavalo branco, que produz um dos tintos mais celebrados do mundo, resolveu agora (depois de mais de 160 anos de história) levar a coisa ao pé da letra: nos próximos dias lança seu primeiro vinho branco, o Petit Cheval Blanc 2014.
Em entrevista exclusiva, o diretor do château de Bordeaux, Pierre Lurton, conta que o projeto iniciado há oito anos veio de um sonho do proprietário Albert Frère e tornou-se possível com a compra do château vizinho, La Tour du Pin. “Foi uma oportunidade de viticultura, e não estratégia de marketing”, diz, ao ser indagado sobre a tendência de renascimento de brancos bordaleses.
Inicialmente só produtora de Merlot, a nova propriedade passou a fazer experiências com a Sauvignon Blanc. A primeira vinificação foi em 2009 e após cinco safras experimentais (2009, 2010, 2011, 2012 e 2013), o vinho chega ao mercado. “Viticultura é para pessoas pacientes. Produzimos safras que nunca serão vendidas apenas para obter o nível de qualidade ideal”, conta.
Para criar o vinho, o château decidiu não contratar consultores. “Contamos com a nossa experiência e tivemos de arcar com nossos erros, reavaliando constantemente nossos métodos de viticultura.”
A principal preocupa- ção foi eliminar aromas de submaturação (os verdeais), mas, ao mesmo tempo, conseguir colher as uvas cedo o bastante para manter o frescor e a boa acidez. “Logo após a fermentação, os vinhos são como uma lâmina perfumada. Temos que poli-los no tempo certo (dois invernos em barrica), lapidar a acidez, aprofundar o paladar.” Ochâteau promoveu degustações às cegas de grandes brancos para avaliar em que faixa de mercado o Petit Cheval Blanc se encontraria. “Essas provas foram essenciais para sabermos o que queríamos e o que não queríamos para o rótulo. Também trocamos experiências com produtores de outras regiões. Foram fonte de inspiração, não de imitação.” A primeira safra do Petit Cheval Blanc evoca a origem bordalesa: é 100% Sauvignon Blanc. Segundo Lurton, os aromas são complexos, mas não ultra-intensos. Fruta amarela, flores brancas, toque defumado e mineralidade. O ataque doce é logo sobreposto pela acidez. Um leve amargor é intencional, para prolongar o final. Serão produzidas só 4,5 mil garrafas. Em 2018, uma parcela de Sémillon deve ser adicionada ao vinho para dar “densidade”. Ainda não se tem notícia sobre a venda dele no Brasil. No Reino Unido, estimase que custe cerca de 100 libras (cerca de R$ 420).