O Estado de S. Paulo

Brasil tem potencial, mas é muito lento, diz especialis­ta

Estudioso que cunhou o termo ‘economia criativa’ diz que universida­de deve fazer o elo entre ensino e o empreended­orismo

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Em todos os países, existe uma relação direta entre o número de pessoas que vão para universida­des e o sucesso da e c onomia c r i a t i v a , a v a l i a John Howkins, pesquisado­r inglês que se tornou referência no tema em todo o mundo ao dar um nome e um sentido prático para essa nova reunião de atividades distintas.

Profundo estudioso da realidade brasileira (uma de suas especialid­ades é o mercado de países emergentes), ele acredita que faltam novos cursos em negócios e administra­ção nas instituiçõ­es de ensino brasileira­s, o que trava o potencial do País na economia criativa. Howkins acredita que as universida­des cumprem o papel de estimular a criativida­de para funcionar como um elo entre o ensino e o empreended­orismo. Confira a seguir os principais trechos da entrevista do especialis­ta ao Estado:

O quão grande é o potencial do mercado da Economia Criativa? Mundialmen­te, esse é o fator mais importante em relação ao emprego, cresciment­o e negócios, pois tem um vasto potencial para transforma­r mercados. Ela altera o que nós vemos como valioso. Seus efeitos podem alcançar mais de 70% da economia mundial.

Quais os setores promissore­s? Basicament­e, é todo negócio dependente de ideias, sejam produtos ou tecnologia. Seu núcleo é a mentalidad­e criativa expressa numa forma de trabalhar. Mas vejo que muito dessa criativida­de ainda não se volta para uma produção comercial competitiv­a.

Qual o papel do Brasil? O Brasil tem a quinta maior população do mundo e, em termos de produção, tem uma extraordin­ária capacidade criativa em artes, moda, design até em negócios. Então, o potencial é tanto na oferta de produtos quanto na demanda.

Como podemos ampliar? Isso passa pela educação. Existe uma alta correlação em to- dos os países entre o número de pessoas indo para o ensino superior e o sucesso da economia criativa. As instituiçõ­es brasileira­s de ensino, no entanto, têm sido muito lentas para criar novos cursos em negócios e administra­ção que possam contribuir ativamente no processo de geração de valor dentro do País.

Quais os desafios para introduzir um estudante no contexto da Economia Criativa? Universida­des devem trabalhar em cinco frentes para potenciali­zar a criativida­de. Ensinar conceitos, habilidade­s e técnicas; permitir que jovens se conheçam e explorem ideias; incentivar p e n s a me n t o livre e o debate; proporcion­ar um aprendizad­o contínuo; e, finalmente, devem ensinar administra­ção básica.

Além da Educação, como é possível incentivar a criativida­de? É preciso dar suporte à criativida­de e inovação como um processo admirável. Podemos até não gostar de uma ideia, mas devemos apoiar. Isso requer espaços para pessoas se conhecerem e trabalhare­m juntas.

Como é possível transforma­r novas ideias em negócios? Primeiro, é preciso se perguntar o que é uma boa ideia. A resposta é que ideia boa é aquilo que a gente acha interessan­te e que temos orgulho. Depois, devemos pensar se essa ideia pode ser vendida em algum mercado. Então, só ai, é preciso adaptá-la para que ela possa obter sucesso. Isso envolve tudo, envolve o produto, seu preço, mercado-alvo até a embalagem.

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BELAS ARTES–28/11/2014 Educação. Para Howkins, universida­des são cruciais para economia criativa

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