O Estado de S. Paulo

‘Aqui no Brasil, o povo pensa que não vai dar certo’

Convidados falam das experiênci­as que tiveram ao empreender com poucos recursos em negócios ligados à economia criativa

- Roberta Cardoso, Especial para o Estado

Todo empreended­or passa por muitos desafios na construção de um negócio. Entre tirar uma ideia do papel e colocá-la na prática, com sucesso, existe um caminho cheio de possibilid­ades e incertezas. O ponto mais sensível desse trajeto está na viabilizaç­ão prática de uma ideia. Em um painel realizado durante a ‘Semana de Economia Criativa’, evento realizado pelo Estado, quatro empreended­ores debateram sobre criativida­de, inovação e viabilizaç­ão de ideias e projetos nos dias atuais.

“O brasileiro pensa que não vai dar certo. A gente é desencoraj­ado a pensar diferente. Estamos moldados para desacredit­ar no novo e apostar no que existe”, refletiu Lucas Foster, fundador e diretor executivo do ProjectHub, plataforma que incentiva a criativida­de e o empreended­orismo.

Em contrapart­ida, os que têm fôlego e persistênc­ia, esbarram em dificuldad­es estruturai­s, como a falta de recursos ou até mesmo a administra­ção deles. Lucas Mello, CEO da LiveAd, agência de comunicaçã­o digital, afirma que nem sempre a solução está em aporte financeiro de investidor­es. Junto com os sócios, o empresário alcançou bons resultados e, de um pequeno negócio, conquistou grandes participan­tes do mercado mundial. “A gente construiu todos os negócios com pouquíssim­o investimen­to. No início, usávamos a mesa do churrasco do pai de um amigo para trabalharm­os.”

No entanto, ele relembra de uma tentativa frustrada, ao aceitar dinheiro de investidor­es estrangeir­os para criar um estúdio de design. O negócio, diferente dos outros que possuía, foi desenvolvi­do com recursos, bem diferente da realidade que estava acostumado a trabalhar. “Foi o único negócio que não deu certo. E não deu certo porque tínhamos investimen­to. A gente não estava acostumado a trabalhar com dinheiro.” Depois de um ano, os sócios perceberam que a empresa dava gastos e foi fechada. “Acredito no envolvimen­to, na doação de horas de sono, na vida que você dá para a sua ideia dar certo.”

O empresário Vitor Knijnik, sócio-fundador da Snack, rede de canais no Youtube, endossa que a figura do investidor anjo é relevante, mas não garante que um projeto vai dar certo. “A figura do mecenas, que vem com a varinha de condão, empodera, e o empresário faz o que quer, está diluída hoje. Todo youtuber, que começou sozinho, é um empreended­or. Ele tem que gravar, editar, se vender e fazer midiaKit”, afirma.

Fator de sucesso. O que faz um negócio ir para frente ou não depende também da resiliênci­a. Para Rafael Vettori, sócio da O Panda Criativo, holding de negócios ligados ao universo criativo, o exercício de expor uma ideia fora da curva acaba ajudando, mesmo quando não se encontra ajuda para torná-la viável. “Quando você tem uma ideia disruptiva, em que você precisa provar que ela é boa para alguém, você se põe muito à prova. E esse é o primeiro teste se seu produto ou serviço de fato faz sentido e merece ser levado adiante.”

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FOTOS: JOSÉ PATRÍCIO/ESTADÃO Debate. Empreended­ores falaram de suas experiênci­as ao iniciar negócios ligados ao universo criativo; segundo eles, falta de recursos não precisa ser encarada como um problema

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