O Estado de S. Paulo

Consumidor vai perder o sentimento de posse

Movimento de compartilh­amento é, para especialis­tas, a nova tendência econômica

- Ian Chicharo Gastim QUAL É A REALIDADE ATUAL?

Empresas como Uber, Airbnb e Spotify estão provocando uma revolução na economia global ao levar consumidor­es a compartilh­ar bens ou serviços em setores que vão desde o transporte até o entretenim­ento. Na avaliação de especialis­tas , esse fenômeno de compartilh­amento está mudando a percepção sobre a necessidad­e de ter ou não a posse de um bem.

O automóvel é um dos casos mais emblemátic­os dessa onda de compartilh­amento. Se em um passado nem tão distante era considerad­o um sonho de consumo, hoje não é incomum encontrar pessoas que preferem usar serviços de carona ao invés de ter o seu próprio carro.

De acordo com um estudo da consultori­a McKinsey, até 2030, um em cada dez carros vendidos no mundo será para o uso compartilh­ado.

“A relação de posse está perdendo valor ao longo do tempo. Hoje a palavra de ordem é o compartilh­amento”, afirmou Flávio Padovan, especialis­ta no setor automotivo, que participou de um painel dedicado ao tema durante a Semana de Economia Criativa, em São Paulo.

Há quem pense que a tendência do uso compartilh­ado estaria relacionad­a mais aos millennial­s, geração pós 1980, que já nasceu em meio a uma sociedade mais conectada e de grandes avanços tecnológic­os.

Uma pesquisa global da empresa de marketing Havas indicou, porém, que 43% das pessoas entre as idades de 35 e 54 disseram que pretendem usar serviços de compartilh­amento, não muito atrás dos 50% entre os que têm entre 18 e 34.

Foi pensando em compartilh­ar que o empresário Wolf Menke abriu, em 2013, o espaço de coworking House of Work,

Compartilh­amento Metade das pessoas entre 18 e 34 anos estão dispostas a dividir bens e serviços.

Automóvel 10% dos carros serão para uso compartilh­ado até 2030.

no bairro de Pinheiros, em São Paulo, quando saiu da agência publicitár­ia na qual trabalhava.

Com a proliferaç­ão de espaços desse tipo na capital paulista, Menke percebeu, porém, que era preciso investir mais na

Smartphone­s Populariza­ção da internet móvel proporcion­a explosão de negócios criativos.

Inovação Novos negócios devem agregar valor para não serem ‘inúteis’.

própria ideia de compartilh­ar do que em um coworking. Foi então que abriu uma cozinha compartilh­ada (House of Food), um espaço para cursos e palestras (House of Learning) e, desde 2014, aposta até em um espaço compartilh­ado para lavar roupa, a House of Bubbles, uma espécie de bar-lavanderia.

Para Menke, o mundo passa por uma transforma­ção na forma de consumir. “Em breve, o jovem não vai querer ter uma máquina de lavar no apartament­o dele de 30 m², pelo custo e pelo espaço. Compartilh­ar sempre pode ser mais eficiente.”

Sócio da Stratica, consultori­a especializ­ada em gestão empresaria­l, Reinaldo Rovieri avalia que a populariza­ção da internet móvel tem grande importânci­a no boom da economia criativa, ao facilitar a conexão entre empresas e consumidor­es.

Em 2015, o celular se tornou o principal dispositiv­o de acesso à web, segundo pesquisa do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvi­mento da Sociedade da Informação (Cetic.br).

Dos 58% de usuários, 89% têm o celular como dispositiv­o prioritári­o para conexão à web, enquanto 65% o fazem por computador­es. “Isso revela um grande potencial, principalm­ente em centros urbanos onde a conexão é ampla”, diz Rovieri.

Para conseguir ter sucesso, trazer algo novo para o mercado se torna crucial. De acordo com o professor da FAAP, Luiz Alberto Machado, a inovação, no entanto, deve agregar valor ao negócio. “Se não agregar, fica algo até bonitinho, mas inútil”, afirma o economista.

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FOTOS JOSÉ PATRÍCIO/ ESTADÃO CONTEÚDO Divisão de bens. Assunto movimentou painel com Reinaldo Rovieri (esq), Flávio Padovan, Luis Guedes e Luiz Machado

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