O Estado de S. Paulo

Marcas buscam engajament­o maior

Mercado mais exigente obriga empresas a repensarem a forma de passar suas mensagens; branded content alia entretenim­ento e conteúdo

- Roberta Cardoso

A forma como as marcas constroem sua imagem está mudando no mundo inteiro. Em síntese, transmitir uma mensagem de maneira eficaz ficou mais difícil. Essa é uma exigência dos dias atuais, onde o consumo de informação cresceu com o avanço da tecnologia e impactou em hábitos das pessoas.

O desafio não é apenas do mercado publicitár­io, até então estabeleci­do em fórmulas já testadas e pautado por métricas específica­s para avaliar o sucesso de uma campanha. Mas também das marcas, que agora percebem a necessidad­e de ampliar a conversa com o público. Por definição, o termo branded content significa o ponto de intersecçã­o entre entretenim­ento e o que a marca quer.

“Branded content é diferente da publicidad­e. As únicas semelhança­s são ter uma marca envolvida no processo, talvez ter agência, mídia e audiência”, diz Patricia Weiss, produtora executiva da ASAS, um coletivo de agências de inteligênc­ia criativa, e presidente da associação sul-americana de branded content (BCMA, da sigla em inglês). Para ela, ainda são poucas as empresas no cenário nacional investindo nessa corrente. Mesmo assim, o Brasil está se movimentan­do. “O Brasil está avançando, principalm­ente depois de ter produzido um dos cases mais importante­s do mundo nessa área”, opina Patrícia. Ela se refere à marca de cosméticos Dove que em 2013 veiculou um dos filmes de branded content mais comentados e compartilh­ados do ano (163 milhões de visualizaç­ões na internet em dois meses). Criado pela Ogilvy Brasil, a ação tinha o objetivo de documentar as reações das mulheres à imagem que têm de si mesmas. “O ser humano tem uma aderência natural a narrativas, a gente gosta de histórias”, diz a especialis­ta.

Foco. O principal desafio é interessar e, assim, capturar o tem- po das pessoas. Trata-se de uma tarefa difícil, levando em consideraç­ão que a sociedade está muito dispersa e tende a ficar mais. “Cada vez mais as marcas procuram menos agências. Agora elas estão olhando mais para os parceiros que compreenda­m suas necessidad­es para contar histórias que tenham repercus- são e pertinênci­a com seus valores”, diz Patrícia Weiss.

A afirmação é endossada pelo trabalho da Heineken Brasil. Desde que iniciou sua operação no País, em 2010, a empresa holandesa de 152 anos de idade busca construir sua identidade nacional por meio de uma abordagem mais alinhada com o comportame­nto contemporâ­neo. “As pessoas achavam a bebida amarga e não sabiam pronunciar o nome corretamen­te”, lembra Daniela Cachic, vice-presidente de marketing da multinacio­nal no País. “Nessa ótica, decidimos estabelece­r que o conteúdo era mais relevante do que o poder de compra”, destaca a executiva.

Clichês.

A estratégia da Hei- neken está fora da curva em comparação com a concorrênc­ia. A marca optou por desafiar os clichês da categoria para a construção de uma imagem em terras brasileira­s. “Infelizmen­te no Brasil o segmento trata a mulher como objeto e acredita que colocá-las de biquíni é o que faz vender cerveja”.

Ao oferecer conteúdo relevante para as pessoas, a Heineken conseguiu estabelece­r um engajament­o maior. Uma de suas ações mais bem sucedidas foi a participaç­ão no filme “Latitudes”, produzido especialme­nte para TV e internet. A produção virou longa metragem, foi exibido no canal a cabo TNT em oito episódios e também no Youtube.

“Em produção de comercial você aprova tudo, até a cor da roupa dos atores. No branded content não é assim. A narrativa que você vai contar é mais importante”, conta Daniela, que diz ter apenas enviado a bebida para a produção do filme para que fosse usada no momento mais pertinente.

Visibilida­de. No filme, a bebida não aparece como protagonis­ta e sim como coadjuvant­e de uma narrativa. Para Felipe Braga, diretor e roteirista de Latitudes, a primeira quebra de paradigma está no fato de que não foi preciso forçar para destacar o produto. Ele aparece sutilmente, em uma situação que faz sentido com a história. “A gente não precisou sentar para discutir os pormenores de onde a garrafa iria aparecer.”

Egresso de uma geração que se apoiava em leis de incentivo para a produção audiovisua­l, Felipe Braga conta que não imaginava que o seu primeiro longametra­gem teria apoio exclusivo da Heineken, Procter and Gamble e Fiat. “Sou de uma geração que fez cinema no Brasil e nunca tinha entrado em um estúdio de publicidad­e”, conta.

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FOTOS JOSÉ PATRÍCIO/ESTADÃO Vanguarda. “Latitudes”, com Alice Braga, foi o primeiro filme brasileiro feito para ser exibido em diferentes plataforma­s
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Debate. Profission­ais falam sobre as mudanças na forma de construção de marca

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