O Estado de S. Paulo

Documento critica ‘Carta ao Povo Brasileiro’

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Além de propor uma guinada radical de volta às origens do partido, as teses apresentad­as para o 6º Congresso do PT também fazem uma autocrític­a do comportame­nto da legenda durante os 13 anos em que ocupou o governo federal.

No texto sobre “Estrutura e funcioname­nto” do PT, o ex-deputado Renato Simões admite que o partido “deslocou-se para o centro” e “deixou vago o espaço político da esquerda”.

Na tese “Luta contra a corrupção”, Valter Pomar afirma que o partido se “aburguesou” e ignorou os sinais de corrupção de alguns filiados. “Este ‘aburguesam­ento’ foi anestesian­do setores do Partido, além de tornar cada vez mais difícil perceber e reagir aos sinais de riqueza exterior, incompatív­el com os ganhos regulares, exibidos por alguns militantes”, diz o texto.

‘Não agressão’. Em “Balanço de Governo”, o secretário de Formação, Carlos Árabe, e o cientista político André Singer argumentam que o distanciam­ento entre as propostas originais do PT e a prática de governo começou em 2002, com a “Carta ao Povo Brasileiro”, antes do início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo eles, o governo Lula adotou um “pacto de não agressão em relação aos capitalist­as”, um modelo de “reformismo fraco”, e, em vez da “ruptura” defendida pelo partido, procurou “utilização intensiva das margens disponívei­s para melhorar as condições de vida dos brasileiro­s de baixa renda, porém sem confrontar o capital”.

Na tese, Singer e Árabe dizem que o primeiro mandato de Dilma se aproximou mais das bandeiras históricas petistas do que a gestão Lula, mas admite que “infelizmen­te, decisões equivocada­s da própria companheir­a Dilma fizeram com que o pleno emprego fosse abalado por um ajuste recessivo no correr do segundo mandato”.

O documento, no entanto, defende que a “guinada neoliberal” de Dilma a partir de 2015 tem como precedente a “Carta ao Povo Brasileiro” e a política conciliató­ria adotada por Lula entre 2002 e 20010.

Apesar da autocrític­a, os textos destacam a necessidad­e de o partido capitaliza­r os feitos dos governos Lula e Dilma./

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