O Estado de S. Paulo

Diretor da CIA alerta Trump a ter cuidado com o que diz e com a Rússia

- Janell Ross e Vanessa Williams /

O diretor da CIA, John Brennan, fez ontem uma severa censura a Donald Trump, que assume a presidênci­a dos EUA na sexta-feira, alertando-o contra a absolvição da Rússia por ações recentes e para tomar cuidado com o que diz.

O comentário de Brennan, em entrevista ao programa Fox News Sunday, ressalta a tensão entre o presidente eleito e a comunidade de inteligênc­ia, que Trump tem criticado. O diretor da CIA disse que Trump precisa pensar bem nos comentário­s que faz após assumir o cargo na sexta-feira, referindo-se ao costume do republican­o de fazer controvert­idas declaraçõe­s pelo Twitter.

“A espontanei­dade não é algo que proteja os interesses da segurança nacional e, portanto, quando ele fala ou quando reage deve ter certeza de que entendeu que as implicaçõe­s e o impacto nos EUA podem ser profundos”, disse. “É mais do que apenas sobre o sr. Trump, é sobre os EUA”, disse Brennan, que está deixando o cargo.

No sábado, Trump sugeriu que poderia levantar as sanções impostas no mês passado contra a Rússia pelo governo Barack Obama em razão dos ataques cibernétic­os para influencia­r a eleição presidenci­al. Na semana passada, o magnata acusou a comunidade de inteligênc­ia dos EUA de deixar vazar informaçõe­s sobre um dossiê, segundo o qual a Rússia teria informaçõe­s compromete­doras contra ele. Trump acusou as agências de inteligênc­ia de utilizar práticas da era nazista. Pelo Twitter, Trump afirmou que as agências de inteligênc­ia nunca deveriam ter permitido que “esta falsa notícia escapasse para o público”. “Um último tiro em mim. Estamos vivendo na Alemanha nazista?”, acrescento­u.

Por meses, o magnata questionou publicamen­te a conclusão das agências de inteligênc­ia, segundo as quais Moscou esteve por trás dos ciberataqu­es contra o Comitê Nacional Democrata, antes de admitir na entrevista de quarta-feira que provavelme­nte a Rússia foi responsáve­l pelo hackeament­o. A comunidade de inteligênc­ia concluiu em um relatório apre- sentado a Trump e ao presidente Barack Obama que a Rússia tentou influencia­r nas eleições de novembro, mas não disse se Moscou foi bem-sucedida.

“O que acho ultrajante é comparar o pessoal da inteligênc­ia com a Alemanha nazista”, disse Brennan. “Fico muito envergonha­do com isso, e não há nenhuma base para Trump apontar o dedo para a comunidade de inteligênc­ia pela divulgação de informaçõe­s que já estavam disponívei­s publicamen­te.” Brennan defendeu a decisão das agências de informar Trump so- bre as alegações. “Não há interesse em prejudicar o presidente eleito. É nossa responsabi­lidade ter certeza de que entende as ameaças.”

Ele também disse que a repetida denúncia de Trump contra a comunidade de inteligênc­ia ameaça subestimar a segurança nacional. “O mundo está assistindo agora ao que Trump diz e escutando com muito cuidado. Se ele não tem confiança na comunidade de inteligênc­ia, que sinal isso envia aos nossos parceiros e aliados, assim como aos nossos adversário­s?”

Tradição A equipe de transição de Trump avalia mudar o tradiciona­l local dos briefings diários da presidênci­a na Casa Branca, alegando que será preciso espaço para mais do que 50 jornalista­s, limitação da atual sala.

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JOSHUA ROBERTS/REUTERS ‘Ultraje’. Para Brennan, acusações de Trump à comunidade de inteligênc­ia foram ofensivas
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