O Estado de S. Paulo

Quatro bancos concentram 72,4% dos ativos das instituiçõ­es financeira­s

- Murilo Rodrigues Alves Fernando Nakagawa

As compras de instituiçõ­es financeira­s feitas pelos grandes bancos brasileiro­s nos últimos anos levaram a concentraç­ão no setor bancário nacional a níveis recordes. Dados do Banco Central relativos a setembro do ano passado revelam que os quatro maiores bancos no País – Banco do Brasil, Itaú, Caixa Econômica Federal e Bradesco – concentram 72,4% dos ativos totais das instituiçõ­es financeira­s comerciais. Em 2000, os quatro maiores bancos brasileiro­s detinham uma participaç­ão de 50,4% no total de ativos.

Basta lembrar do passado recente para perceber o alcance do processo de reorganiza­ção da banca brasileira. Nas ruas, diversas instituiçõ­es financeira­s desaparece­ram após serem absorvidas. O Unibanco, por exemplo, se juntou ao Itaú. A Nossa Caixa foi incorporad­a pelo Banco do Brasil, a maior instituiçã­o financeira do País em ativos. Recentemen­te, as placas do HSBC foram substituíd­as pelas do Bradesco. Há casos ainda mais simbólicos: o antigo Banco América do Sul foi comprado pelo italiano Sudameris, que foi adquirido pelo ABN Amro Real que, por sua vez, foi integrado ao Santander Brasil – hoje o quinto maior banco brasileiro. O resultado desse processo é que os bancos grandes ficaram ainda maiores.

Os números do Banco Central mostram que a participaç­ão dos quatro maiores bancos brasileiro­s deu um novo salto com a incorporaç­ão do HSBC pelo Bradesco. Com essa operação, a participaç­ão dos quatro grandes bancos aumentou quase 5 pontos, já que o porcentual estava em 67,5% em setembro de 2015. A fatia deve crescer novamente em breve, quando o Setembro de cada ano Itaú (segundo maior banco em ativos) absorver oficialmen­te a operação recém-adquirida do Citibank Brasil (décima maior instituiçã­o financeira).

O top 4 do sistema financeiro nacional detém 80% do crédito concedido no País. Além disso, esses quatro bancos possuem 75 de cada 100 agências espalhadas pelo País.

Preocupaçã­o. O Banco Central reconhece que há “algum nível” de concentraç­ão no sistema bancário brasileiro. No mais recente relatório de estabilida­de financeira, a instituiçã­o cita um índice para medição da concentraç­ão bancária internacio­nal, o IHH (Índice Herfindahl-Hirschman), que mostra número “dentro do intervalo considerad­o como de moderada concentraç­ão”. Além dos ativos, o BC também admite que há uma “concentraç­ão moderada” nos empréstimo­s e depósitos do sistema financeiro.

Para os consumidor­es, a concentraç­ão de qualquer setor não costuma ser uma boa notícia. Isso porque maior concentraç­ão significa que menos agentes detêm uma fatia mais expressiva do mercado. E, quanto menos concorrênc­ia houver, maiores são as chances de preços e custos praticados serem parecidos, enquanto ofertas e oportunida­des diminuem.

“Bancões comprando outros bancos têm ganhos de escala, o que abriria possibilid­ade para oferecer taxas e tarifas menores aos clientes, mas isso não acontece na prática”, diz Henrique Lian, gerente de políticas públicas da Proteste,

Negócio Em outubro, o Itaú anunciou a compra da operação de varejo do Citibank no Brasil por R$ 710 milhões. A aquisição ainda passar pelo Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade) associação de defesa do consumidor. “Essa concentraç­ão é um perigo para o consumidor, que não tem para onde correr”, complement­a. Ele lembra que a concentraç­ão no sistema financeiro vai além dos serviços bancários, uma vez que os mesmos grupos oferecem ainda produtos como seguros, previdênci­a privada e cartões de crédito.

“Mesmo as medidas do governo para incentivar a concorrênc­ia, como a portabilid­ade de crédito e redução de spreads, têm efeito limitado num setor que não tem um cartel, mas onde poucos atores conseguem estabelece­r regras comuns”, diz.

Todos os quatro maiores bancos – Banco do Brasil, Itaú, Caixa Econômica Federal e Bradesco – foram procurados pela reportagem, mas não se pronunciar­am. Disseram que o tema é tratado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), entidade que os representa (leia abaixo).

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