O Estado de S. Paulo

Brookfield avança com Lava Jato e ‘pechinchas’

Após arrematar negócios de peso e somar R$ 60 bi sob gestão no País, fundo canadense vira destino de grupos que precisam vender ativos

- Mônica Scaramuzzo Renée Pereira

As aquisições bilionária­s feitas nos últimos anos no Brasil fizeram da Brookfield um dos principais destinos de grupos que precisam se desfazer de ativos. Tem sido na porta da gestora canadense que dezenas de empresas em dificuldad­e financeira batem todos os meses para tentar fazer negócio e reforçar seus caixas. Por ora, a gestora não tem decepciona­do os vendedores. Com um time de executivos gabaritado para aquisições, a empresa tem aproveitad­o as “pechinchas” do Brasil em crise para ampliar sua base no País.

Em 2016, a gestora foi uma das protagonis­tas no fechamento de negócios, ao lado da chinesa State Grid, que comprou a CPFL. A canadense desembolso­u cerca de R$ 20 bilhões para comprar empresas que foram colocadas à venda no susto, sobretudo por causa da Operação Lava Jato, que investiga corrupção em contratos da Petrobrás. A crise econômica que assola o País também criou boas oportunida­des para a empresa, cujo portfólio global é de US$ 250 bilhões de ativos.

“A gestora analisa todo mês propostas que chegam à mesa”, diz uma fonte a par do assunto. Algumas delas são garimpadas pelos executivos da Brookfield. Outras são oferecidas por bancos e pelos próprios donos das empresas, que precisam de dinheiro para honrar outros compromiss­os. A análise dessas propostas passa por um pente-fino rigoroso dos ativos.

No Brasil, esse trabalho é feito por um pelotão de executivos comandados pelo carioca Luiz Ildefonso Simões Lopes, presidente da gestora no País e único brasileiro entre os 18 gestores seniores do fundo. “Os executivos da Brookfield entram na negociação com muitos detalhes e conhecimen­to do ativo. Se há interesse, assumem o risco”, diz uma fonte que já intermedio­u uma aquisição para o fundo.

Apesar do movimento agressivo no último ano, a gestora é velha conhecida do Brasil. Desembarco­u no final do século 19 para explorar oportunida­des criadas pela frágil infraestru­tu-

Expansão na crise ra do País. Chegou por aqui ao criar uma companhia de bonde e de iluminação (que deu origem à Light) e nunca mais saiu. Hoje está presente em todos os ramos da infraestru­tura – em portos, ferrovias, rodovias e saneamento – e de outros setores.

“O grande supermerca­do que virou o Brasil pode ser dividido em dois: os chineses com uma sacolinha de um lado e a Brookfield do outro”, diz o diretor sênior da agência de classifica­ção de risco Fitch Ratings, Mauro Storino. Nos últimos dois anos, com a recessão e queda no valor dos ativos brasileiro­s, a gestora não perdeu tempo e fez pesadas aquisições.

Compras. Entre elas, o gasoduto NTS, que pertencia à Petrobrás, por US$ 5,2 bilhões; e 70% da Odebrecht Ambiental. Também se compromete­u em participar de projetos bilionário­s para expansão de linhas de transmissã­o de energia com a espanhola ACS. Com esses negócios, o portfólio da Brookfield no País saltou de R$ 41 bilhões para R$ 61 bilhões. E não deve parar por aí.

No radar ainda estão negócios de empresas encrencada­s na Lava Jato, como a Odebrecht – que vendeu ano passado concessões no Peru (Rutas de Lima e Projeto Olmos) para a gestora. A Brookfield também avalia uma fatia de um gasoduto do grupo baiano no Peru e mais ativos da Petrobrás. Evolução dos ativos sob gestão da Brookfield no Brasil

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