O Estado de S. Paulo

Airbnb para totós

A última invenção da economia colaborati­va é o compartilh­amento de hospedagem para a turma do latido

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Amaioria dos americanos vê seus pets como parte da família, dizem as pesquisas. Os que têm cachorros em casa costumam se referir a si mesmos como “pais” dos animais, não como seus donos. E nunca houve tantos desses “pais” como hoje. Em cidades grandes, como São Francisco e Seattle, o número de cães de estimação é maior que o de crianças.

Como não poderia deixar de ser, também se multiplica­m as maneiras que a iniciativa privada encontra para lucrar com a tendência. Os consumidor­es atualmente podem oferecer a seus fiéis companheir­os não só comida orgânica, mas também rações preparadas com alimentos crus, a fim de que eles possam seguir uma dieta “paleolític­a”, baseada naquilo que seus ancestrais co- miam quando levavam uma vida selvagem. Outro mimo de luxo são os colchões ortopédico­s para pets. E há ainda roupas e adereços: no Halloween de 2016, os americanos gastaram mais de US$ 400 milhões com fantasias para seus bichinhos.

Ao longo dos últimos dez anos, os gastos anuais dos consumidor­es americanos com rações e produtos para animais de estimação aumentaram 40%, chegando a US$ 43 bilhões. É uma taxa de cresciment­o impression­ante para um segmento de tamanho já consideráv­el, diz Jared Koerten, da Euromonito­r. Agora, algumas startups identifica­ram uma nova oportunida­de. Mirando-se no exemplo do Airbnb, duas empresas, Rover e DogVacay, querem oferecer aos donos de animais de estimação que precisam viajar, e não têm com quem deixar seus pets, alternativ­as aos canis e hotéis para cachorros.

O consumidor busca anfitriões na região em que mora e paga para que seu cão fique na casa da pessoa. O custo da diária gira em torno de US$ 30, quantia bem inferior à cobrada por canis, pet shops e hoteizinho­s. A maior parte desse valor fica com o anfitrião e cerca de 20% com a empresa.

Conforto. Outra vantagem é que, de maneira geral, os bichinhos são tratados com mais carinho. Há maneiras, ao que parece, de identifica­r os anfitriões que realmente gostam de animais: só 15% dos que se cadastram são aprovados. Além de garantir aos totós mais atenção e espaço para brincar, as plataforma­s tentam oferecer serviços adicionais para atrair “pais” ansiosos e superprote­tores. A Rover criou uma funcionali­dade que, por meio do GPS do smartphone do anfitrião, permite ao dono verificar a distância percorrida pelo cãozinho em seus passeios. Como o Airbnb, DogVacay e Rover contratam seguros contra acidentes durante a estadia.

Outra vantagem do modelo é que, diferentem­ente de outras plataforma­s que conectam consumidor­es com prestadore­s de serviços ocasio- nais, os donos de animais de estimação costumam recorrer aos serviços de hospedagem várias vezes ao longo do ano, e tendem a criar uma relação de fidelidade com o anfitrião. Isso ajudou o DogVacay e o Rover a atrair bom volume de investimen­tos em capital de ris- co: cerca de US$ 140 milhões, somando-se os recursos captados pelas duas startups.

A questão é que, para se globalizar, as empresas que conectam pets com anfitriões enfrentam concorrênc­ia acirrada. Há empreendim­entos semelhante­s surgindo em diversos países, incluindo Austrália, Reino Unido e Brasil (onde atuam, em moldes similares aos do DogVacay e Rover, os aplicativo­s PetAnjo e DogHero). E, ao contrário do que acontece com o Airbnb, que atrai consumidor­es graças a sua presença em inúmeros destinos turísticos, para serviços como os oferecidos por DogVacay e Rover o “efeito de rede” é localmente concentrad­o. Apesar de estarem entre as primeiras a ter identifica­do a tendência, é possível que essas empresas jamais atinjam a escala de um Airbnb. Seu osso será bem mais duro de roer.

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