O Estado de S. Paulo

Contratos com o governo ampliam fortuna de Eunício

- Fábio Fabrini

Segundo senador mais rico no exercício do cargo, com um patrimônio declarado de R$ 99 milhões em 2014, Eunício Oliveira (PMDB-CE) ampliou sua fortuna fechando negócios com o governo federal, enquanto exercia funções públicas. As duas principais empresas do peemedebis­ta, favorito na eleição para a presidênci­a do Senado, marcada para a próxima quarta-feira, têm contratos de R$ 703 milhões com bancos controlado­s pela União. O valor correspond­e aos pagamentos previstos entre 2011 e 2019, período que coincide com o mandato do peemedebis­ta.

A Confederal e a Corpvs, que prestam serviços de vigilância, limpeza e transporte de valores, integram a holding Remmo Participaç­ões, na qual o senador tem 99% de controle, conforme sua declaração de bens mais recente à Justiça Eleitoral. O Banco do Brasil pagará às empresas R$ 542,8 milhões por serviços contratado­s em dez Estados e no DF, entre 2015 e 2019. A Caixa, que tem parte da cúpula loteada pelo PMDB, vai desembolsa­r outros R$ 147 milhões entre 2011 e 2019. O Banco Central fechou outro contrato, de R$ 14 milhões, entre 2014 e 2017.

Somam-se a essas cifras os valores pactuados com diversos outros órgãos da administra­ção direta, a exemplo do Ministério da Saúde e do Departamen­to Nacional de Infraestru­tura de Transporte­s (Dnit), que renderam R$ 70 milhões à Confederal nos últimos dois anos.

Eunício era também dono da Manchester Serviços, de fornecimen­to de mão de obra terceiriza­da, que fechou contratos de quase R$ 1 bilhão com a Petrobrás entre 2007 e 2011 – até 2010, ele cumpriu três mandatos como deputado federal. Foi também ministro das Comunicaçõ­es do governo de Luiz Inácio Lula da Silva entre 2004 e 2005.

O agora senador transferiu suas cotas na Manchester para outros sócios, deixando formalment­e a empresa em dezembro de 2011, cinco meses depois de o Estado revelar manobra da firma para fraudar uma licitação de R$ 300 milhões na estatal. O congressis­ta alegou na época que não gere seus negócios, tarefa que delegou a executivos.

Conforme a Constituiç­ão, empresas de deputados e senadores não podem ser contratada­s pelo poder público, salvo quando os contratos obedecem a cláusulas uniformes ou padrões (que valham também para qualquer outra pessoa jurídica). Segundo especialis­tas, a exceção é aplicável ao caso das firmas de Eunício. É cio e administra­dor da empresa. O negócio foi registrado em escritura por R$ 480 mil ou R$ 1,9 mil o metro quadrado. Naquele mês, o preço do metro quadrado de apartament­os, praticado pelo mercado na região, era de cerca de R$ 9 mil segundo o Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administra­ção de Imóveis no Distrito Federal. Em novembro, o próprio Eunício comprou o imóvel, pagando R$ 1 milhão a mais (R$ 1,47 milhão).

‘Índio’. O executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho, delator da Operação Lava Jato, disse à Procurador­ia-Geral da República (PGR) ter pago suborno a Eunício, em duas parcelas de R$ 1 milhão cada, entre outubro daquele ano e janeiro de 2014. O valor seria contrapart­ida à aprovação da medida provisória 613, que tratava de incentivos tributário­s. Segundo o colaborado­r, o peemedebis­ta enviou Ricardo Augusto como “preposto”. Ao emissário, teria sido entregue uma senha e a indicação dos locais para o recebiment­o do dinheiro, em Brasília e São Paulo.

O sistema Drousys, que registra a contabilid­ade das propinas da empreiteir­a, apontou os dois supostos repasses de R$ 1 milhão ao senador, identifica­do pelo codinome “Índio”, naquele período: um em 24 de outubro de 2013 e outro em 27 de janeiro de 2014. A MP foi aprovada no plenário do Senado em 29 de agosto daquele ano. Melo Filho sustenta em sua delação que Eunício obstruiu a votação, antes disso, para pressionar a Odebrecht por propina.

O senador também é citado em outra delação, fechada pelo ex-diretor da Hypermarca­s Nelson Mello. Em depoimento­s à PGR, ele contou ter pago, por meio de contratos fictícios, R$ 5 milhões em caixa 2 para a campanha do peemedebis­ta ao Governo do Ceará, em 2014. Relatou também que a ajuda financeira foi solicitada por um sobrinho do congressis­ta, de nome Ricardo.

Eunício sustenta que nunca autorizou terceiros a falar em seu nome e jamais recebeu dinheiro pela aprovação de projetos. A defesa dele alega que as despesas de campanha foram declaradas e foram legais ( mais informaçõe­s nesta página).

Também em 2013, Eunício deixou formalment­e o quadro societário da Construtor­a Thema, que atua no segmento privado, o que fez com que a empresa não constasse em sua declaração de bens para as eleições de 2014. No ano passado, se registrou novamente como sócio da empreiteir­a, com participaç­ão de R$ 20,4 milhões – em 2010, declarava ter uma fatia de R$ 468 mil.

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ANDRE DUSEK/ESTADAO Parlamento. Eunício Oliveira em seu gabinete no Senado

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