O Estado de S. Paulo

Fiança é desafio para ex-tesoureiro que perdeu apoio do PT

Paulo Ferreira, réu na Lava Jato, tem tido tratamento diferente do recebido por colegas de função também presos

- Ricardo Galhardo

O gaúcho Paulo Ferreira tem duas coisas em comum com Delúbio Soares e João Vaccari Neto. Foi tesoureiro nacional do PT e acabou na cadeia. Mas, diferentem­ente de Delúbio e Vaccari, que sempre contaram com a solidaried­ade do partido nos momentos difíceis, Ferreira, réu na Lava Jato e na Custo Brasil, tem enfrentado sozinho as dificuldad­es para pagar a fiança de R$ 200 mil fixada pela Justiça.

Até agora, nem petistas mais próximos de Ferreira se mobilizara­m para ajudar o companheir­o preso. A direção do partido também já disse que não vai fazer nenhum movimento para auxiliar o ex-dirigente a arrecadar o montante.

No caso de Delúbio, que foi condenado a 8 anos e 11 meses de prisão e pagamento de R$ 466 mil de multa por envolvimen­to no mensalão, a militância se mobilizou e em poucos dias arrecadou mais de R$ 1 milhão. O excedente ainda ajudou a pagar a multa de outros condenados. Ele ficou preso entre novembro de 2013 e setembro de 2014.

Já Vaccari, detido desde abril de 2015 pela Lava Jato, foi objeto de defesas públicas da direção partidária e até do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A solidaried­ade petista se fez presente até no caso do desconheci­do João Gois Neto, ex-vereador pelo PT de Osasco, na Grande São Paulo, preso preventiva­mente por suposto envolvimen­to em um esquema de funcionári­os fantasmas na Câmara Municipal. Em pouco mais de 24 horas, os petistas da cidade conseguira­m juntar o to- tal de R$ 300 mil para pagar a fiança do ex-vereador.

Enquanto isso, Ferreira, que ocupou um dos cargos mais importante­s na hierarquia partidária, revira os bolsos para conseguir sozinho os R$ 200 mil estipulado­s pela juíza federal Gabriela Hardt, que substitui o juiz Sérgio Moro em suas férias. O valor da fiança determinad­o por Moro era de R$ 1 milhão.

Desabafo. “Se os militantes do PT não simpatizam com o Ferreira, problema deles”, desabafou o advogado do ex-tesoureiro, Luiz Bueno de Aguiar.

De acordo com o advogado, Ferreira colocou à disposição da Justiça o único bem que possui, um carro usado no valor de R$ 38 mil, e tenta sacar R$ 158 mil de um consórcio habitacion­al, mas enfrenta dificuldad­es.

“Agora a juíza quer fazer uma perícia no carro. Nem sabemos se juntando tudo vai dar os R$ 200 mil”, afirmou Aguiar.

A única ajuda dada pelo partido é o pagamento da defesa. Aguiar é contratado pelo PT desde 2005, recebe valores fixos e seu contrato prevê a defesa de integrante­s da direção da sigla. Além dele, outros quatro advogados contratado­s pelo PT por valores simbólicos auxiliam na defesa do ex-tesoureiro.

“O PT está fazendo o que a lei permite”, disse o advogado.

Indiferenç­a. Segundo lideranças petistas, a indiferenç­a em relação a Ferreira se deve à discrepant­e postura do gaúcho em relação aos outros ex-tesoureiro­s que foram presos. Enquanto Delúbio e Vaccari pagaram o preço por controlar o caixa 2 partidário, atuando como “soldados” do PT, Ferreira teria usado propinas da Petrobrás em interesse próprio.

Ele é acusado de entregar R$ 45 mil da estatal para a escola de samba Estado Maior da Restinga, de Porto Alegre, em troca de apoio político na campanha para deputado federal em 2010. Além disso, teria repassado outros R$ 61 mil à rainha da bateria da escola, Viviane Rodrigues da Silva. O ex-tesoureiro nega as acusações.

Segundo o advogado, a situação financeira de Ferreira é dramática. “Quando sair da cadeia ele vai ter que morar de favor na casa da filha.”

Paulo Ferreira Preso desde junho, o ex-tesoureiro, réu na Lava Jato e na Custo Brasil, não obteve ajuda do PT para pagar fiança de R$ 200 mil.

Delúbio Soares Condenado no mensalão, Delúbio ( acima) teve de pagar multa de R$ 466 mil. A militância arrecadou mais de R$ 1 milhão e sobra quitou outras multas.

João Vaccari Neto O ex-tesoureiro, detido pela Lava Jato desde abril de 2015, recebeu defesas públicas da direção partidária e de Lula.

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LÚCIO BERNARDO JR./ CÂMARA DOS DEPUTADOS-07/2013 Plenário. Ferreira em fala na Câmara quando era deputado
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