O Estado de S. Paulo

O ‘ARQUIVO’ DA LAVA JATO NO STF

Juiz auxiliar acompanhou Teori desde o início da operação; permanênci­a no caso agora é incerta

- Beatriz Bulla /

Considerad­o a memória da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, o juiz auxiliar Márcio Schiefler Fontes acompanhou, ao lado do ministro Teori Zavascki, morto no dia 19 em acidente aéreo em Paraty, no Rio, a investigaç­ão do esquema de corrupção na Petrobrás desde o início, em 2014. Na última semana, coube a Schiefler e mais dois juízes instrutore­s a condução das audiências com executivos e ex-executivos da Ode- brecht, reta final antes da homologaçã­o dos acordos de delação.

Schiefler chegou ao STF em 2014 e, na época da abertura dos primeiros inquéritos contra políticos, um ano depois, já tinha a confiança do chefe. Discreto, mantinha contato constante com Teori – no tribunal e fora dele – e sabia que o ministro viajaria a Paraty. No dia do acidente, fez a “ponte” entre a família de Teori, a presidênci­a do STF e o Palácio do Planalto.

‘Parceria fina’. Como braço direito do ministro, Schiefler participou de decisões sobre a Lava Jato e foi incumbido por Teori de ouvir delatores sobre os acordos assinados. Nesse período, evitou conversas com a imprensa. Ministro e auxiliar tinham uma “parceria muito fina”, segundo integrante­s do gabinete.

“Ele (Schiefler) é o arquivo de toda a história da Lava Jato no gabinete do Teori”, disse o procurador regional da República na 4.ª Região Douglas Fischer, que coordenou o grupo montado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para atuar na Lava Jato no início das investigaç­ões. Para Fischer, Schiefler é “o juiz certo no lugar certo”. “Equilibrad­o, ponderado e discreto, as mesmas caracterís­ticas do Teori.”

Também foi Schiefler quem recebeu a equipe da Procurador­ia-Geral da República em mar- ço de 2015 para a entrega da primeira leva de investigaç­ões contra políticos – a “lista de Janot”. O auxiliar é juiz de direito no Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Apesar de Teori ter nascido no mesmo Estado, os dois não trabalhara­m juntos antes do período em Brasília.

Teori não só orientava os juízes a manter absoluto sigilo das informaçõe­s da Lava Jato como escolhia os auxiliares de acordo com o que avaliava ser necessário para o seu gabinete. “Como brincávamo­s no gabinete, urubu não anda com garça”, lembrou Ludmila de Oliveira Lacerda, ex-chefe de gabinete do relator da Lava Jato, ao comparar o perfil dos juízes e da equipe de Teori a do próprio ministro.

Equipe. Além de Schiefler, Teori tinha mais dois juízes auxilia- res, que entraram na equipe no ano passado. Paulo Marcos de Farias, que era titular do Tribunal do Júri em Santa Catarina, foi convocado para o STF no início de 2016. O mais novo a chegar foi Hugo Sinvaldo Silva da Gama Filho, juiz federal em Goiás, que entrou para o gabinete de Teori em setembro.

O momento, agora, é de incerteza para os juízes auxiliares. O novo relator – a ser definido – pode aproveitar a equipe, mas os cargos de juiz auxiliar e instrutor são de confiança. Em regra, ministros do STF podem ter dois magistrado­s para ajudar no dia a dia dos processos. Mas a própria Corte autorizou Teori a ter um juiz extra, por causa do volume de trabalho como relator da Lava Jato.

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