O Estado de S. Paulo

Radicalism­o dita 1ª semana de governo

Impulso populista do presidente deve enfrentar cenário de baixa aprovação e protestos nos EUA

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Os primeiros dias de Donald Trump no poder revelaram um presidente narcisista obcecado por sua popularida­de, disposto a usar falsidades na tentativa de construir uma narrativa lisonjeira e determinad­o a governar para seus eleitores mais extremista­s, que aplaudiam a construção do muro, a deportação de imigrantes e o bloqueio à entrada de muçulmanos nos EUA.

Trump também declarou guerra à imprensa e se empenhou na tentativa de minar a credibilid­ade da mídia tradiciona­l. Em seu discurso de posse, deixou claro sua hostilidad­e a instituiçõ­es democrátic­as americanas, entre as quais o seu próprio partido. A grande dúvida é se seu ímpeto populista vai sobreviver a um cenário de baixa aprovação e protestos contra seu governo.

O Trump presidente é uma versão turbinada do Trump candidato, que professa um nacionalis­mo extremo e tem a caneta para implementa­r suas propostas mais radicais.

Diretor do instituto de pesquisas Ipsos, Clifford Young diz que Trump sofre do que ele chama de “síndrome do caudilho” – o líder personalis­ta que se apresenta como redentor disposto a destruir um sistema político que supostamen­te beneficia as elites em detrimento dos pobres.

Mas o discurso populista do novo presidente não garantiu até agora elevados índices de aprovação. “Trump não tem apoio da maioria da população. Ele não é Lula nem Hugo Chávez”, disse Young, , que trabalhou durante 11 anos na América Latina.

O novo presidente não fez nenhum gesto conciliató­rio na direção dos opositores, que superaram o número dos que o apoiaram – ele venceu no Colégio Eleitoral, mas perdeu no voto popular por 3 milhões de votos.

No dia seguinte à sua posse, cerca de 3 milhões de pessoas protestara­m nas ruas de diferentes cidades dos EUA em favor dos direitos das mulheres e contra seu

governo, na que foi a maior manifestaç­ão da história americana.

Mas não está claro se isso importa nesse momento, observou Erick Langer, professor de História da Universida­de Georgetown, para quem o sistema de pesos e contrapeso­s da democracia americana está comprometi­do. O Partido Republican­o tem maioria na Câmara e no Senado e não parece disposto a confrontar Trump.

“Isso pode servir aos interesses políticos imediatos do partido, mas eles estão cutucando a onça com vara curta. Ela pode prensa de ser o “partido da oposição” e sugeriu que ela deveria “calar a boca”.

O governo ameaçou transferir a sala de imprensa da Casa Branca para um outro edifício e abriu os briefings diários do porta-voz da presidênci­a a representa­ntes de blogs de extrema direita que atuam como veículos de propaganda de Trump.

mordê-los na forma de aumento do autoritari­smo presidenci­al ou na derrota nas eleições legislativ­as de 2018”, avaliou Langer. Segundo ele, o grande símbolo da insurgênci­a do governo Trump contra as instituiçõ­es democrátic­as é Steve Ban-

Plano Donald Trump, assinou ontem um decreto com instruções para que o Pentágono apresente em 30 dias uma estratégia para derrotar o Estado Islâmico non, o representa­nte da extrema direita que ocupa o cargo de estrategis­ta do presidente. “Bannon disse que quer explodir o sistema político e criar algo muito diferente do mundo democrátic­o liberal.”

Por trás dos ataques da equipe de Trump, está a tentativa de minar a credibilid­ade da imprensa tradiciona­l, borrar o limite entre realidade e ficção e ampliar o espaço para os “fatos alternativ­os”, expressão usada por uma das principais assessoras de Trump para descrever os argumentos que tentaram sus- tentar a falsa tese de que o público na posse do presidente superou o que assistiu a de Obama.

“A aposta da equipe de Trump é a de que não eles precisam da mídia, porque têm Twitter, a Fox News e os blogueiros e apresentad­ores de rádios de extrema direita”, disse o cientista político Andrew Rudalevige, especialis­ta em história presidenci­al dos EUA e professor da Faculdade Bowdoin. “Eles se sentem confortáve­is atacando a imprensa, mas não atingem um número suficiente de pessoas para governar.”

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