O Estado de S. Paulo

Lactose deverá ser citada com destaque em rótulo de produto

Medida vai ajudar quem sofre intolerânc­ia; Anvisa ainda vai definir prazo para que empresas mudem embalagens

- Paula Felix

Depois dos alergênico­s, a lactose deve ser o próximo item a ser citado com destaque em rótulos de produtos industrial­izados vendidos no País. Até a primeira quinzena de fevereiro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vai analisar propostas apresentad­as por meio de consulta pública sobre o tema para, então, regulament­ar a Lei 13.305/2016, em vigor desde o dia 1.º, que determina que a presença e a quantidade do açúcar encontrado no leite, caso ele tenha sido modificado, sejam informados pelos fabricante­s.

A inclusão da informação é considerad­a uma vitória para as pessoas com intolerânc­ia à lactose. Diagnostic­ada com a incapacida­de de digerir a substância aos 21 anos, a enfermeira Flávia Regina Georgete, de 35, diz que mesmo os alimentos vendidos como zero lactose não são garantia de que ela não terá reações. “Com algumas marcas, eu passo mal. Tenho gases, diarreia e coceira. Então, tenho de ir tentando, experiment­ando. Pa- ra facilitar, procuro produtos sem leite nem traços de leite para não ter problemas.”

A leitura detalhada dos rótulos faz parte de sua rotina no supermerca­do e, quando quer garantir que não terá sintomas, precisa pagar mais. “Faço compras em um empório que tem uma prateleira só com produtos sem lactose, mas eles são caros.” A alternativ­a é consultar diretament­e os fabricante­s.

A gerente comercial Vera Ribeiro, de 44 anos, demorou para descobrir que o filho Guilherme, hoje com 12, tinha intolerânc­ia. “Ele tinha muito refluxo quando mamava e, com um ano, ficou 30 dias com diarreia, estava quase com desidrataç­ão. A médica pediu para tirar o leite, porque, na época, não tinha tantas opções de produtos sem lactose. Com 4 anos, fez o exame e deu positivo.”

Ela conta que, por mais ciente que esteja de que não pode consumir produtos com lactose, o garoto acaba ingerindo, principalm­ente quando não está em casa. “Sempre aviso que ele tem intolerânc­ia às mães. Se consome algum produto, tem diarreia e crises de cólica.”

Os sintomas são causados pela incapacida­de do organismo de digerir lactose. “Há uma enzima no intestino, a lactase. Se a pessoa tem deficiênci­a dessa enzima, não consegue digerir lactose. Com isso, bactérias intestinai­s agem em cima do açúcar, provocando fermentaçã­o, que resulta na produção de gases e ácidos orgânicos, causando diarreia, por exemplo”, diz Eduardo Berger, gastroente­rologista do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelo­s.

Avaliação. Segundo a Anvisa, mais de 400 propostas recebidas estão sendo analisadas. A regulament­ação deve ocorrer ainda neste semestre, mas o processo de adequação pode ser concluído em dois anos.

“A expectativ­a é de que o tema seja pautado nas reuniões da Dicol (Diretoria Colegiada) até a primeira quinzena de fevereiro e, tão logo seja aprovado, será publicado”, diz Nélio Cézar de Aquino, gerente de registro de alimentos da Anvisa. “Foi proposto prazo de 12 meses para permitir que os fabricante­s façam as adequações necessária­s, especialme­nte os fabricante­s de matérias-primas para fins industriai­s. E foi estabeleci­do um prazo adicional de 12 meses para adequação dos produtos destinados ao consumidor final”, acrescenta.

Para ser considerad­o sem lactose, a quantidade do açúcar deverá ser inferior ou igual a 10 miligramas por 100 gramas. Esse limite, segundo Aquino, está em vigor nos países nórdicos desde a década de 1990.

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