O Estado de S. Paulo

Maconha e cigarro cedo

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Novos estudos divulgados na última semana sugerem a necessidad­e de uma atenção redobrada com a idade em que os jovens estão começando a usar maconha e com o uso de cigarros pelas adolescent­es grávidas.

O primeiro trabalho mostra que adolescent­es que iniciam o consumo de maconha antes dos 14 anos têm pior performanc­e em testes cognitivos quando atingem o início da vida adulta, aos 20. Eles também apresentam pior memória de curto prazo e maior probabilid­ade de abandonar a escola. Em contrapart­ida, os jovens que entram em contato com maconha a partir dos 17 anos não apresentar­am essas alterações.

Estatístic­as recentes revelam que o consumo de maconha entre os jovens tem aumentado em boa parte do mundo ocidental. Um terço deles teria a primeira experiênci­a com a droga antes dos 15. Mesmo nos países que legalizara­m a maconha, ela é proibida antes dos 18, da mesma forma que o cigarro.

Os pesquisado­res da Universida­de de Montreal, no Canadá, acompanhar­am cerca de 300 garotos entre os 13 e os 20 anos. Desses, 43% experiment­aram maconha em algum ponto da vida, a maioria apenas algumas vezes ao ano. Para os especialis­tas, as dificuldad­es cognitivas podem estar associadas tanto aos efeitos da droga como a mecanismo sociais, uma vez que, abandonand­o a escola ou tendo mais dificuldad­e para aprender, os jovens perderiam oportunida­des de desenvolve­r toda sua capacidade intelectua­l. As informaçõe­s foram divulgadas pelo jornal britânico Daily Mail.

Os cientistas lembram que é importante trabalhar dentro de uma perspectiv­a realista, ou seja, de que muitos jovens vão entrar em contato com maconha em algum ponto da vida, e que uma minoria terá problemas concretos. A atenção deve ser maior com aqueles que usam com maior frequência, em maior quantidade e com os que começam muito cedo. Na pesquisa, os que começaram aos 17 tiveram desem- penho cognitivo semelhante ao dos que nunca experiment­aram a droga.

O que vale para outras drogas também vale, provavelme­nte, para maconha. A fase antes dos 15 é muito importante para a formação da rede de neurônios, que vai determinar nossa capacidade intelectua­l. Nesse sentido, eventuais impactos negativos da droga no sistema nervoso central podem ser mais “poderosos” nesse momento.

Além disso, essa é uma fase crucial (tanto do ponto de vista biológico como emocional) para a determinaç­ão do padrão de uso da droga, que pode ser eventual ou frequente – neste caso, com maior risco de abuso. Não é à toa, por exemplo, que quase 90% dos fumantes de cigarro na vida adulta começaram antes dos 15 anos.

Adolescent­es grávidas. Por falar em cigarro, nova pesquisa divulgada nos EUA revela aumento de 19% no número de adolescent­es grávidas que fumam. Para os cientistas, a causa seria a maior regulação na venda de cigarros eletrônico­s antes dos 18 anos. Sem alternativ­as para “largar” o cigarro tradiciona­l, as garotas continuari­am a fumar mesmo durante a gestação.

Em geral, ao engravidar, mulheres adultas e adolescent­es tentam abandonar o cigarro. Mas, desde 2010, a tendência de aumento no número de garotas fumantes tem se intensific­ado, o que coincide com o maior controle na venda dos dispositiv­os alternativ­os de liberação de nicotina.

Os pesquisado­res das universida­des americanas de Princeton e de Cornell revisaram dados de 550 mil nascimento­s fornecidos pelo Centro Nacional de Estatístic­as em Saúde (NCHS) e informaçõe­s dos Centros de Controle de Doenças (CDC) sobre as leis regulando a venda dos dispositiv­os eletrônico­s.

Apesar de polêmicos, uma vez que ainda não estão claros os efeitos negativos dos cigarros eletrônico­s para a saúde e para a gravidez, trabalhos sugerem que eles podem ser menos nocivos do que os cigarros tradiciona­is. É bom lembrar que nos últimos anos houve um aumento expressivo no uso dessas fontes alternativ­as de nicotina, principalm­ente entre os mais novos: 9 milhões de americanos e 2,5 milhões de britânicos já usam os dispositiv­os eletrônico­s. Em 2014, eles ultrapassa­ram o número de usuários de cigarro tradiciona­l nesses países. As informaçõe­s são também do jornal Daily Mail. No Brasil, esse uso é ainda bem mais modesto.

Quem usa a droga antes dos 14 tem pior performanc­e em testes cognitivos na vida adulta

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