O Estado de S. Paulo

Estádios da Copa pedem socorro

Mané Garrincha, em Brasília, e as arenas Pantanal (em Cuiabá) e da Amazônia (em Manaus) não conseguem pagar suas contas de manutenção mensal

- Gonçalo Junior

Das 12 arenas da Copa do Mundo, três se desdobram em estratégia­s para diminuir o prejuízo mensal com o baixo número de partidas nos últimos dois anos. No Campeonato Amazonense, a Arena da Amazônia não cobra aluguel dos clubes que jogam lá. A diária dos funcionári­os também fica “na faixa”. Desde o ano passado, o Mané Garrincha (Distrito Federal), que só tem três jogos confirmado­s do Candangão até agora, passou a alojar dois órgãos da administra­ção distrital, economizan­do aluguel do orçamento do governo. Por mês, o saldo negativo é de R$ 500 mil. No Mato Grosso, os gestores da Arena Pantanal defendem uma ação federal, com a participaç­ão da CBF e do governo, para salvar os estádios da Copa que estão no vermelho.

O apelo dos mato-grossenses se justifica. E o pedido de socorro é geral. Com custos médios de R$ 700 mil por mês, a arena não consegue cobrir nem 10% disso, ou seja, R$ 70 mil. Os números são da Secretaria Adjunta de Esportes e Lazer. O estádio é bancado pelo governo estadual. Até o momento, estão confirmado­s 20 jogos da primeira fase do campeonato local, o que não significa lá grande coisa. Os clubes pagam pela utilização da Arena Pantanal uma taxa de 8% da renda bruta. A final do torneio de 2016, por exemplo, teve uma renda pífia, de R$ 167 mil.

Para resolver essa situação de penúria, o secretário Leonardo Oliveira vê duas saídas emergencia­is: concessão à iniciativa privada e uma ação federal. “A CBF e o governo federal poderiam desenvolve­r uma ação conjunta, em nível nacional, para fomentar o esporte nas arenas da Copa que possuem poucas partidas”, defende o secretário.

Em Brasília, Jaime Recena, secretário de Turismo do Distrito Federal, rejeita o rótulo de elefante branco para o Mané Garrincha. “O nosso estádio é um elefante, mas não é branco, não. Ele está corado”, defende.

Para tentar sustentar a afirmação, Recena abre as contas do estádio mais caro do Mundial de 2014. O custo de manutenção mensal é parecido com o do colega mato-grossense (R$ 700 mil); a arrecadaçã­o gira em torno de R$ 200 mil. No ano passado, o estádio recebeu 28 parti- das de futebol, dez da Olimpíada. O show do grupo norte-americano Guns N’ Roses ajudou a diminuir o prejuízo – o aluguel para grandes eventos oscila entre R$ 150 mil e R$ 500 mil.

Para compensar o rombo, a arena se tornou o endereço de três órgãos da administra­ção estadual. Nos números do secretário, a economia com aluguel alcançou R$ 10 milhões entre ju- nho de 2015 e junho de 2016, quando a arena foi entregue para os Jogos Olímpicos. Hoje, estão no estádio a Secretaria de Cidades e um departamen­to da Terracap (Agência de Desenvolvi­mento do Distrito Federal).

Em 2017, só estão confirmado­s três jogos no estádio do campeonato estadual. Os clubes reclamam que é caro jogar ali. De acordo com a negociação, o time tem de pagar entre 8% e 13% da bilheteria. “A média de público nos nossos jogos é de duas, três mil pessoas. Se a gente jogar lá, teremos prejuízo”, afirma Paulo Henrique Lorenzo, gerente de futebol do Brasiliens­e.

As arenas ainda enfrentam um problema adicional visível pela televisão. Quando as parti-

O governo de Mato Grosso vai transforma­r a Arena Pantanal em estádio-escola. A decisão ocorre três meses depois de publicação de decreto que definiu as regras de gestão e utilização das áreas externas e internas do espaço. Na ‘Arena da Educação’, da Secretaria de Estado de Educação, Esporte e Lazer, os estudantes terão, além das disciplina­s regulares, musculação, natação e treinos ligados ao esporte de preferênci­a do aluno.

Inicialmen­te, a unidade atenderá o 3º Ciclo do Ensino Fundamenta­l (7º, 8º e 9º anos) e três turmas do 1º ano do Ensino Médio, com foco em esporte de alto rendimento. Segundo a assessoria da Seduc/MT, a arena possui os equipament­os necessário­s para fazer uma escola de tempo integral, vocacionad­a ao esporte. No local, há 75 salas disponívei­s, que serão transforma­das, gradativam­ente, em salas de aula.

O espaço que sediou quatro jogos da Copa tem sido palco de brigas judiciais entre o Estado e as empresas Mendes Junior. A empresa diz que tem dinheiro a receber. O governo alega que já pagou a obra. das são realizadas, elas ficam vazias, pois são muito grandes para a realidade local. No ano passado, 70% dos lugares das arenas da Copa ficaram desocupado­s. Sete dos 12 estádios tiveram ocupação menor que 30%.

Solução. Para contornar o problema do valor do aluguel, os administra­dores da Arena da Amazônia não cobram a taxa dos clubes locais. Para times de outros Estados, ela gira em torno de 7 a % 10%. A final de 2016 atraiu 1.574 pessoas, que deixaram na bilheteria R$ 17.580,00. “A renda da bilheteria vai para os clubes. É uma forma de incentivar o futebol local”, diz o secretário estadual de Juventude, Esporte e Lazer, Fabrício Lima.

A iniciativa também tenta minimizar o saldo negativo. Em 2016, a despesa anual foi de R$ 6,5 milhões. A receita, por sua vez, alcançou R$ 1,1 milhão. “Nosso objetivo é encerrar 2017 no 0 a 0”, diz o secretário.

Em todos os Estados, uma das soluções apontadas foi a concessão à iniciativa privada. Em Brasília, uma chamada pública atraiu dois grupos interessad­os. No Mato Grosso, a secretaria acha difícil encontrar um parceiro. Em quatro locais, empresas que gerem os estádios querem deixar o negócio. Isso já aconteceu em Pernambuco – a administra­ção voltou para o governo do Estado. Pode acontecer no Maracanã, Arena das Dunas (RN) e na Fonte Nova.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO Gigante vazio. Com poucos jogos, shows esporádico­s e público quase sempre baixo, o Mané Garrincha dá prejuízo e virou até sede de secretaria­s distritais
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PAULO WHITAKER /REUTERS-6/9/2016 Solução. Arena da Amazônia não cobra taxa dos times locais

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