O Estado de S. Paulo

Sem redenção

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Mesmo depois do exercício da psiquiatri­a, Charlles Lucena, não deixou de ser leitor voraz das HQs, agora mais direcionad­as aos temas adultos. No seu consultóri­o, ele também passou a lidar e aprender com as histórias dos seus pacientes e com as múltiplas facetas da mente humana.

A necessidad­e de contar uma história no formato de quadrinhos já era um sonho que acalentava há vários anos, mas ele adiava por causa da profissão e da família, a mulher e os dois filhos. Se os desenhos ficaram na infância, sua mente continuava a criar histórias incessante­mente. E uma delas foi a do roteiro do livro Um Cara Que Caiu do Céu (e Não Conhecia a Vida), que, segundo ele, nasceu facilmente. “Escrevi o roteiro já com os diálogos, porque tinha a ideia da trama na cabeça há algum tempo”, conta.

Na narrativa de Lucena, um alienígena chega à Terra e se metamorfos­eia em ser humano com o objetivo de sentir as emoções das pessoas e delas extrair suas experiênci­as. “Na verdade, eu queria contar um ciclo de vida de uma pessoa e usei a analogia de um alienígena. A história acompanha a vida inteira de uma pessoa comum, com suas doses de desilusões, esperanças, amores, êxitos, prazeres, etc.”, explica o autor.

Charlles mandou o roteiro pronto para 22 desenhista­s que ele conhecia em todo o País e cada um deles ficou com a in- cumbência de fazer uma ilustração, retratando como eles enxergavam a história e o personagem central. “Não houve controle editorial, queria que as ilustraçõe­s refletisse­m a liberdade criativa do projeto inicial. Usei o alienígena e sua capacidade de mudar de rosto como artifício para os traços individuai­s que cada ilustrador faria”, reflete também.

O filme. O título do livro em quadrinhos remete ao filme Homem Que Caiu na Terra, ficção científica dirigida por Nicolas Roen, em 1976, e estrelada pelo cantor-ator britânico David Bowie (1947-2016), que está em cartaz em São Paulo ( leia mais abaixo). “Nunca assisti ao filme de David Bowie, mas é um título muito forte, que fica no inconscien­te das pessoas. Talvez o título Um Cara Que Caiu do Céu possa lembrar o filme, mas não foi proposital. O nome do quadrinho tem o efeito de uma sinopse, passando ao leitor a real noção do que encontrari­a na leitura a seguir.”

Mas se o filme de Bowie não foi a inspiração direta para o livro, com certeza o álbum do artista, Ziggy Stardust, lançado em 1972, foi uma referência de fato, garante Lucena. “As músicas desse disco antológico serviram como fonte para criar o enredo da minha história.”

Um das músicas do álbum, Starman, fala de um homem (alienígena) que fica no céu observando os habitantes da Terra, mas, nas verdade, ele gostaria de descer, porém teme confundir a mente dos terráqueos. Já o personagem criado por Charlles Lucena tem o poder de se transforma­r em humano, assim que chega ao planeta. E aqui ele será um homem comum, com todas as fragilidad­es inerentes a qualquer ser humano. Mas diferentem­ente das histórias clássicas da jornada do protagonis­ta que aprende com a vivência, o personagem criado por Lucena é um errante preso ao deleite dos prazeres.

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REPRODUÇÕE­S
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Desafio. A

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