O Estado de S. Paulo

Doisdiscos emconexão

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lugar. Seu avô também funcionou como uma figura paterna em sua vida, depois que seu pai, o jogador Édson de Souza Barbosa, mais conhecido como Édson Cegonha, deixou o Brasil para ser treinador no Qatar quando ela ainda era criança. “Até meus 13 anos, meu pai morava no Qatar, vinha me visitar, mas ele morava fora. Por acaso, logo no início da minha infância, meu avô ficou doente e foi morar com a gente.”

E, como já faz i a a nt e s , e l e abastecia sempre a neta com frutas, livros e discos. “Ele era um cara que achava que eu tinha que entender Lupicínio Rodrigues e Ataulfo Alves com 5 anos.” Com o pai, o relacionam­ento só veio mais tarde, depois que ele retornou ao País. “Eu lembro do meu pai todo dia quando me olho no espelho, porque a gente é igual. Tenho oito irmãos por parte de pai e somos todos idênticos a ele”, ela conta. “Fui conhecer meu pai melhor a partir do meio da minha adolescênc­ia. Nunca foi uma relação tão próxima, mas muito amorosa, muito respeitosa.”

Homenagens. Apesar de se enveredar pelo samba em algumas faixas de seu disco duplo, Sul | Branco, Luana Carvalho afasta quaisquer possibilid­ades de (inevitávei­s) comparaçõe­s com a obra de Beth Carvalho ao seguir por outros ritmos. E, diferentem­ente da mãe, Luana é também compositor­a. Os álbuns Sul e Branco são duas versões da mesma Luana, em dois tempos, dois processos, duas pulsações muito diferentes entre si.

Com produção de Moreno Veloso, Branco foi gravado antes, levou mais tempo para ser feito, reúne 11 faixas e investe em uma sonoridade de banda, a cargo de um time de músicos de primeira linha, incluindo nomes como Pedro Sá, Domenico Lancellott­i, Alberto Continenti­no, Davi Moraes e Pedro Luís. É um disco autoral, mas que também abre espaço para inéditas de outros autores e também regravaçõe­s. Assim, além de canções suas, como as boas Garupa (com Lucas Castello Branco) e Eu Só, há a inédita Luz do Âmbar, de Pedro Luís, que a compôs sob encomenda de Luana em homenagem a Lisboa, cidade com a qual ela e Pedro mantêm uma estreita conexão. Entre as regravaçõe­s, destaque para o samba Força da Imaginação, de Caetano Veloso e Dona Ivone Lara, que foi composto a pedido de Beth Carvalho para seu disco Traço de União (1982). Nessa faixa, Luana conta com a participaç­ão afetiva da própria Dona Ivone Lara – e acabou homenagean­do Cae- tano, Dona Ivone e a mãe.

Já Sul, feito apenas por Luana, Moreno Veloso, Domenico Lancellott­i e Pedro Sá, traz a faceta mais intimista da compositor­a – e sete faixas assinadas só por ela. No álbum, Luana ainda toca violão em todas as faixas. Sul foi elaborado enquanto eles esperavam Branco ser lançado. “Os dois discos têm o mesmo produtor, que é o Moreno, os músicos do Sul estão todos no Branco, tem um caminho que junta os dois. Mas são discos diferentes, poderiam existir sozinhos.”

Presença. Mas o processo de composição tornou Sul urgente para Luana. “Fui morar no Jardim Botânico, as canções foram todas compostas ali. Uma delas, Oito Navios, eu compus no dia em que eu ouvi o Branco, quase como se fosse uma música que celebrasse minha audição solitária, eu e meu chimarrão, na minha casa. Dali para frente, fui fazendo essas canções. Como o Branco estava demorando por questões burocrátic­as para sair, sabia que eu queria que aquelas sete canções do Sul fossem as canções que me apresentas­sem”, explica Luana. “Isso precisava fazer parte de um primeiro trabalho, porque o Sul sou eu profundame­nte hoje, foi tudo de mais íntimo que aconteceu comigo no último ano. Eu não ia mudar o Branco, porque ele já estava pronto, era outro organismo pronto.” Ela decidiu que iria gravar Sul, nem que fosse só para sair na versão digital. Moreno e companhia, que ela imaginava que iriam demovê-la da ideia – afinal, Branco nem tinha saído ainda na época –, toparam na hora.

No projeto, Beth Carvalho surge como homenagead­a, mas não faz participaç­ão efetiva. Foi pensado assim desde o começo? “Ela está literalmen­te ( nesse trabalho), é quem facilitou a minha vida, para que eu pudesse investir nisso. Mais físico do que ela ali não existe, e acho bonito que seja assim para começar”, responde Luana. “O fato de minha mãe ter colocado minha música (‘ Arrasta Sandália’, que foi indicada para o Prêmio da Música Brasileira 2012) num disco dela ( Nosso Samba Tá Na Rua) – e jamais seria por uma questão de filha – é uma forma de estar comigo na minha estreia, porque foi a minha primeira canção gravada.”

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FABIO MOTTA/ESTADÃO Luana. Estreia com disco duplo, ‘Sul’ e ‘Branco’: inéditas e regravaçõe­s
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DIVULGAÇÃO Com a mãe. Beth Carvalho gravou canção da filha em 2011

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