O Estado de S. Paulo

Promessas de mais ação

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Medidas para facilitar os negócios e destravar o potencial de expansão das empresas serão lançadas na próxima semana, disse em São Paulo o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Ele aproveitou a participaç­ão num evento empresaria­l para reiterar promessas formuladas e acumuladas desde o segundo semestre do ano passado.

A agenda inclui, segundo ele, “uma série enorme de medidas microeconô­micas, de desburocra­tização, fortalecim­ento da capacidade de crédito, queda dos spreads”. São mudanças cobradas há muito tempo pelo setor privado, para atenuar ou eliminar problemas apontados, ano após ano, em relatórios internacio­nais sobre o poder de competição de países desenvolvi­dos, emergentes e em desenvolvi­mento.

O Brasil tem sido regularmen­te mal classifica­do nesses estudos. Prejudicam a nota fatores como tributação excessiva da produção, crédito muito caro, entraves burocrátic­os à exportação e à importação, complexida­de excessiva do sistema de impostos, instabilid­ade de regras, formação deficiente da mão de obra e o próprio ambiente macroeconô­mico. O governo instalado há menos de um ano deu prioridade, corretamen­te, ao tratamento dos problemas macro.

As primeiras ações do Executivo foram voltadas para a correção dos enormes desajustes das contas públicas. Enquanto isso, o Banco Central (BC) avançava no esforço de controle da inflação, mantendo inicialmen­te os juros básicos de 14,25% e só afrouxando sua política a partir de outubro.

A prioridade é perfeitame­nte justificáv­el, mas até o conserto das con- tas públicas será mais complicado e penoso do que poderia ser, se a reativação dos negócios, depois de mais de dois anos de recessão, for muito retardada. As medidas microeconô­micas, voltadas para a operação das empresas e para o funcioname­nto dos mercados, serão moldadas para atender, segundo se espera, a dois objetivos.

Um deles, muito amplo, é a criação de condições para um cresciment­o seguro e duradouro. Tratase, nesse caso, essencialm­ente de uma política de médio e de longo prazos. Sem isso, a reativação da economia poderá esgotar-se em pouco tempo. Não se pode, no entanto, desprezar os problemas de curto prazo, até porque a confiança na política econômica e no futuro da economia poderá diminuir, ou mesmo dissipar-se, em breve, se faltar alimento para o otimismo.

Os sinais de reanimação dos negó- cios foram até agora muito fracos e permanece muito insegura qualquer previsão de cresciment­o nos próximos meses. É preciso cuidar com mais empenho do impulso inicial – ou, mais provavelme­nte, dos impulsos necessário­s.

O governo tem poucos fatores a seu favor nesse quesito. O BC acelerou o corte dos juros básicos, a partir de janeiro, e poderá manter o ritmo de afrouxamen­to da política monetária nos próximos meses. Essa possibilid­ade foi indicada por seu presidente, Ilan Goldfajn. Em segundo lugar, a inflação em queda prejudica menos a renda dos consumidor­es. Isso poderá ajudar, mas estarão as famílias dispostas a gastar mais ou – mais improvável – a tomar novos empréstimo­s?

A liberação de R$ 30 bilhões das contas inativas do FGTS poderá ajudar, mas provavelme­nte será necessário algo mais para mover a econo- mia, especialme­nte porque o desemprego continua muito alto e os consumidor­es têm motivos para ser cautelosos. Sem melhoras do lado da demanda final, também os empresário­s terão poucos estímulos para se mexer muito mais.

Resta o governo. Com as contas ainda esburacada­s, o setor público terá de manter uma política fiscal muito apertada. Ainda assim, poderá fazer da infraestru­tura um ponto de apoio para movimentar a economia. Há muitas obras paradas. Há, além disso, um programa de concessões. Com mais agilidade será possível destravar aquelas obras e negociar novos contratos.

Há, enfim, sinais de alguma reação nas exportaçõe­s industriai­s. Será possível fazer algo para dinamizar essa atividade? O governo tem mostrado competênci­a na área macro. Agora, deverá mostrar dinamismo na ação direta sobre os negócios.

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