O Estado de S. Paulo

Novo relator da Lava Jato, Fachin promete celeridade

- Beatriz Bulla Rafael Moraes Moura Breno Pires O SUBSTITUTO

O ministro Luiz Edson Fachin foi sorteado ontem novo relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF) e deu início ao trabalho de transição para receber em seu gabinete os casos relacionad­os à operação. A função era desempenha­da desde o início da investigaç­ão, em 2014, pelo ministro Teori Zavascki, morto em um desastre aéreo no último dia 19. Fachin divulgou uma nota na qual se compromete­u a agir com celeridade, transparên­cia, prudência e responsabi­lidade, em homenagem a Teori.

Fachin vai herdar de imediato ao menos 37 inquéritos e três ações penais da Lava Jato que estavam no gabinete de Teori e ficarão sob sua relatoria na Corte. Dentre as acusações formais ainda não julgadas, ele terá que decidir sobre a denúncia mais antiga da operação, apresentad­a contra o ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTCAL) em 20 de agosto de 2015 e que conta com 278 páginas. Ao todo, no Supremo são 109 alvos, sendo 42 parlamenta­res.

O ministro foi sorteado após migrar, ainda ontem, da Primeira Turma do STF para a Segunda – colegiado do qual Teori fazia parte e responsáve­l por analisar a Lava Jato. Apesar da definição do novo relator, o avanço da operação está agora nas mãos do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Cabe a ele tomar os próximos passos nas investigaç­ões contra políticos e autoridade­s com foro privilegia­do citados nas delações de 77 executivos e exexecutiv­os da Odebrecht. Como os acordos já foram homologado­s pela presidente do STF, Cármen Lúcia, durante o recesso, não há pendências sobre a Odebrecht direcionad­as a Fachin.

O novo relator precisa aguardar que Janot encaminhe ao Supremo uma nova leva de pedidos de abertura de inquérito e denúncias. Até lá, o material deve continuar sob sigilo. A expectativ­a é de que Janot e Fachin tenham uma conversa informal sobre a Lava Jato e, especialme­nte, sobre a Odebrecht.

Cabe ao relator de uma ação no STF ordenar e dirigir os processos, com providênci­as de investigaç­ão, decisões monocrátic­as e encaminham­ento de julgamento. Pode, por exemplo, decidir sobre um pedido de inquérito feito pela PGR e solicitaçõ­es de levantamen­to de sigilo.

A intenção de Janot é manter as delações protegidas pelo segredo de justiça no momento, para não atrapalhar a investigaç­ão. O grupo que auxilia o procurador-geral na Lava Jato analisou os depoimento­s dos delatores no mês de janeiro e agora trabalha na divisão dos casos delatados por fatos capazes de originar inquéritos.

O procedimen­to já foi adotado em outras ocasiões, como no início da Lava Jato, quando o grupo cruzou as delações de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef. O material deu origem às primeiras investigaç­ões contra políticos, abertas em março de 2015. Só após o início dos inquéritos as delações foram tornadas públicas.

No caso da Odebrecht, quando um fato a ser investigad­o não envolver autoridade com foro privilegia­do, Janot pedirá a Fachin para despachar o caso para a primeira instância. Caberá a Fachin autorizar ou não eventuais investigaç­ões decorrente­s das delações da empreiteir­a, recém-homologada­s pelo Supremo. Um dos delatores é Marcelo Odebrecht. Fachin terá de analisar denúncia contra o senador do PMDB na Lava Jato. Em dezembro, a Procurador­ia-Geral da República acusou Renan de receber R$ 800 mil em propina. Também na “fila” de Fachin está a ação penal da qual é alvo a senadora petista. Acusada de receber R$ 1 milhão do esquema na Petrobrás, ela virou ré em setembro passado. Fachin terá de analisar uma das primeiras denúncias da Lava Jato no STF. A acusação contra o senador do PTC é de agosto de 2015. Ele teria recebido propina de subsidiári­a da Petrobrás.

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RENATO COSTA/FRAMEPHOTO
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RODOLFO BURHER/REUTERS

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