O Estado de S. Paulo

Desconfian­ça no ar

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Oministro Edson Fachin será o relator das ações e inquéritos da Operação Lava Jato. Ele será o responsáve­l por analisar novas colaboraçõ­es premiadas, ficará em contato direto com advogados e acusadores e autorizará a busca de novas provas, como intercepta­ções telefônica­s e depoimento­s de testemunha­s. O relator é o primeiro a analisar as provas e, por meio de um relatório, informar os principais elementos do processo aos demais ministros. Seu papel, portanto, é bastante relevante para garantir o devido processo legal e a sua celeridade.

Ainda que Edson Fachin seja o mais recente integrante do tribunal e não tenha, até o momento, mostrado grande influência nos julgamento­s em plenário, não há nenhuma razão para duvidar de sua isenção à frente do caso. Mesmo assim, há uma desconfian­ça no ar que, se não pode ser creditada à competênci­a de Fachin, fica na conta da falta de transparên­cia e opacidade com que a redistribu­ição foi conduzida.

Desde o primeiro momento parece ter havido a opção por desprezar o caminho regimental mais simples, qual seja, aguardar a indicação de um novo ministro para assumir o caso. Além disso, ainda que o regimento traga hipóteses excepciona­is para redistribu­ir processos aos ministros que já estão no tribunal, a mudança de relator para todos os casos da Lava Jato foi feita sem nenhum ato formal da presidente Cármen Lúcia que explicasse as razões pelas quais decidiu fazer isso apenas com esse caso. Para piorar, as regras de sorteio de processos não são transparen­tes. O STF informou que a ordem de Cármen Lúcia foi feita “verbalment­e” e que Fachin ter sido sorteado logo após integrar a turma foi uma “coincidênc­ia”.

Não há dúvidas de que a Lava Jato seja uma bomba política, cujos efeitos já foram sentidos por deputados, senadores, ministros e presidente­s. Porém, parte da sua legitimida­de está em aplicar a lei indistinta­mente aos poderosos, como a qualquer um de nós. Quanto mais diferencia­do for o tratamento dado ao caso, mais próximo do estará do fracasso.

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