O Estado de S. Paulo

Como Teori, magistrado tem perfil discreto

- Beatriz Bulla /

Edson Fachin, novo relator da Operação Lava Jato, chegou ao Supremo Tribunal Federal há pouco mais de um ano e meio. O “novato” na Corte é também o mais recente integrante da Segunda Turma – ele pediu para integrar o colegiado após a morte do colega Teori Zavascki.

Como jurista, Fachin desenvolve­u trabalhos na área do direito civil e sua atuação no campo penal – e, portanto, a forma como vai tocar a investigaç­ão de corrupção na Petrobrás – é considerad­a uma incógnita.

Em decisões emblemátic­as sobre casos que passaram pelo plenário, Fachin acompanhou Teori e a maioria: para afastar Eduardo Cunha (PMDB-RJ) do mandato de deputado, retirar de Sérgio Moro investigaç­ões que envolviam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e permitir o fatiamento de braços da Lava Jato a outras jurisdiçõe­s.

Fachin chegou ontem à Segunda Turma da Corte num gesto semelhante ao feito poucos meses antes de sua indicação. Em 2015, na iminência da nomeação de um novo integrante do STF pela então presidente Dilma Rousseff, Dias Toffoli migrou da Primeira para a Segunda Turma para que o novo indicado à Corte não ficasse com o ônus de julgar na “Turma da Lava Jato”. O indicado por Dilma foi Fachin, que agora não só julga como relata o caso. Seu gesto foi visto nesta semana por colegas como uma “gentileza” ao futuro indicado à Corte.

Semelhança. Discreto, Fachin é visto como nome consensual dentro do STF: evitou polêmicas no curto período de Corte, manteve a sobriedade em momentos de intenso assédio da imprensa e se aproximou de Teori, também lembrado pela discrição. Interrompe­u as férias na Alemanha para embarcar para o enterro do amigo em Porto Alegre, e se emocionou.

Ao ser escolhido para o STF, interlocut­ores de Dilma diziam que a presidente viu em Fachin uma mistura de suas duas indicações imediatame­nte anteriores: Teori e Luís Roberto Barroso. No STF, os três conversava­m sobre questões do tribunal e pensavam em uma reformulaç­ão interna para que a Corte seja mais eficiente e ágil. O novo relator é considerad­o por integrante­s do seu gabinete “workaholic” e bem-humorado.

Indicação. Fachin foi cotado para o STF no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, mas só foi consolidad­o na última indicação que poderia ser feita por Dilma. Fachin enfrentou resistênci­a no Senado – era considerad­o nome ligado a movimentos sociais e foi filmado pedindo votos para a Dilma em 2010.

Isso fez com que o Planalto, na ocasião, visse no indicado um voto favorável na definição do impeachmen­t. Fachin, no entanto, validou o rito do algoz de Dilma, o então presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O voto de Fachin foi derrotado em plenário, mas foi considerad­o um sinal de independên­cia.

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