O Estado de S. Paulo

Aliada, Austrália também vira ‘alvo’ do presidente

- Claudia Trevisan

Em menos de duas semanas no cargo, Donald Trump entrou em confronto com um dos mais tradiciona­is aliados dos EUA, a Austrália, e esgarçou ainda mais os laços com o México, o vizinho que é o segundo maior destino das exportaçõe­s americanas. Nos dois casos, a origem da tensão foi o comportame­nto agressivo ou desrespeit­oso de Trump em conversas telefônica­s com os líderes dos dois países. Relatos sobre as ligações afetaram a imagem de Washington e provocaram reações da opinião pública e de políticos locais, o que pode abalar a cooperação bilateral futura. Jornais australian­os estampavam ontem reportagen­s e artigos que refletiam a percepção de que o relacionam­ento com os EUA alcançou seu mais baixo ponto em décadas.

O presidente americano defendeu seu estilo incisivo e disse que ele era necessário para evitar que os EUA sejam explorados pelo restante do mundo. “Temos de ser duros. É o momento de sermos um pouco mais duros, pessoal. Virtualmen­te cada nação do mundo está tirando vantagem de nós. Isso não vai mais acontecer.”

A origem do conflito com a Austrália foi um acordo fechado pelo governo Barack Obama para receber 1.200 refugiados que estão naquele país. O assunto foi discutido em um telefone- ma no sábado entre Trump e o primeiro-ministro australian­o, Malcolm Turnbull, que pediu a manutenção do compromiss­o.

Trump criticou o acordo e interrompe­u a conversa de maneira abrupta, segundo relato do jornal Washington Post. Na quarta-feira, ele o atacou no Twitter: “Você acredita nisso? Obama concordou em receber milhares de imigrantes ilegais da Austrália. Por quê? Eu vou estudar esse acordo estúpido”.

Professor de Prática e Política Internacio­nal da Universida­de de Michigan, Melvyn Levitsky disse que há uma diferença entre ser “firme” e ser “amea- çador” diante de outros países. “Isso não vai funcionar em relações internacio­nais”, observou. “Espero que o sr. Trump entenda que ele não é o único que tem uma agenda. Líderes fortes como o da Austrália, de nossos aliados europeus e na América Latina têm seus próprios interesses e eleitores para os quais responder.”

Na Austrália, o comportame­nto de Trump colocou em xeque a solidez da aliança mantida pelos países desde a 2.ª Guerra. Desde então, soldados australian­os lutaram ao lado de americanos em cinco conflitos armados. Além disso, a Austrá- lia coopera com agências de inteligênc­ia dos EUA e permite que tropas americanas fiquem estacionad­as no norte do país.

“Isso nos leva a abandonar noções românticas sobre essa aliança e sermos mais realistas”, disse o ex-premiê australian­o Bob Carr, segundo relato do Sydney Morning Herald. Mas Trump não deu mostra até agora de se importar com alianças internacio­nais. A julgar por seu discurso de ontem, ele parece acreditar que os EUA não precisam de ajuda: “O mundo está um tumulto, mas nós vamos arrumar isso, OK? É isso que faço. Eu conserto coisas.”

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