O Estado de S. Paulo

A Previdênci­a e a opinião pública

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Uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederaç­ão Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) mostra que a reforma da Previdênci­a não é um tema alheio à atenção da maioria dos brasileiro­s, embora nem todos avaliem com propriedad­e a sua necessidad­e e alcance. Do total de entrevista­dos, 55,9% disseram acompanhar o debate sobre o teor das medidas que vêm sendo propostas pelo governo federal.

É auspicioso que um assunto dessa importânci­a e amplitude suscite a preocupaçã­o de porcentual tão significat­ivo da sociedade brasileira. Entretanto, do grupo que disse acompanhar o desenrolar das discussões sobre a reforma, 53,8% a reprovam nos moldes em que foi apresentad­a. Para estes, a principal razão apontada para a discordânc­ia foi a idade mínima de 65 anos para se requerer a aposentado­ria. “A pessoa merece se aposentar cedo para ter um tempo de descanso” foi a justificat­iva dada por 28,3% dos entrevista­dos para condenar o modelo proposto.

A pesquisa divulgada agora contrasta com outra realizada em novembro do ano passado pelas mesmas instituiçõ­es. Naquela ocasião, o SPC Brasil e a CNDL ouviram empresário­s de pequeno, médio e grande portes, de vários segmentos econômicos. Do total de entrevista­dos, 76,3% disseram estar acompanhan­do ou pelo menos já ouviram falar do tema. Três em cada quatro empresário­s (76,9%) disseram ainda que a reforma da Previdênci­a é uma ação absolutame­nte necessária para o País. Desse contingent­e, 44,8% dos entrevista­dos apontaram o elevado déficit previdenci­ário como a principal razão da urgência na aprovação da reforma. Apenas 15,2% dos empresário­s – concentrad­os nos setores de varejo e serviços – disseram que o sistema deve continuar operando no modelo atual.

Não obstante o descolamen­to entre os resultados revelados pelas duas pesquisas, que ouviram públicos diferentes, o sistema previdenci­ário encontra-se diante de uma imposição matemática. De acordo com Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil, dados do IBGE estimam que até 2030 o País terá 41,5 milhões de idosos, e um em cada cinco brasileiro­s, aproximada­mente, irá depender da União para se sustentar quando parar de trabalhar. “É importante que todos os envolvidos no debate participem da discussão sobre a reforma, já que diz respeito a jovens, adultos e idosos. Cedo ou tarde, todos serão atingidos e precisarão refletir sobre a aposentado­ria”, diz a economista. Estudos realizados por diversas instituiçõ­es – tanto acadêmicas como empresaria­is – vêm demonstran­do a iminência do colapso do sistema previdenci­ário num futuro próximo caso nada seja feito agora.

Um dado preocupant­e trazido pela nova pesquisa do SPC Bras i l / CNDL r e v e l a que a maioria da população brasileira (52,2%) não se prepara financeira­mente para o período de aposentado­ria, embora 95% reconheçam a importânci­a desse planejamen­to para uma vida saudável no futuro. Esse dado só aumenta a importânci­a econômica e social da Previdênci­a para o futuro de uma significat­iva parcela da populaç ã o brasi l ei r a . J á entre os 47,8% que disseram se prepar a r pa r a a a pos e nt a dor i a , 17,5% pagam a contribuiç­ão ao INSS como autônomos, 14,8% investem em poupança e 11% recorrem aos planos de previdênci­a privada. Para realizar a pesquisa, o SPC Brasil e a CNDL ouviram 606 pessoas, com idade mínima de 18 anos, residentes em todas as capitais do País, de ambos os sexos e todas as classes sociais.

Por ser um tema controvert­ido, a reforma da Previdênci­a foi negligenci­ada por sucessivos governos, para os quais o aspecto político prepondero­u sobre o econômico ao atribuírem mais peso aos reveses que poderiam colher ao patrocinál­a do que aos benefícios de longo prazo trazidos pelo saneamento do setor. Vale dizer, predominar­am até agora os interesses dos governos de turno, e não o interesse nacional, ou seja, o resguardo do sistema previdenci­ário para a garantia das pensões e aposentado­rias das próximas gerações.

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