O Estado de S. Paulo

Agora vai?

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Averdade que precisa ser dita (ou escrita) com todas as letras é que, apesar de todas as crises, ou por causa delas, nunca antes na história deste País houve melhores condições para as reformas estruturai­s que assegurem um cresciment­o sustentáve­l. Essas condições favoráveis são bem mais políticas do que econômicas, mas mesmo os indicadore­s da economia começam a colaborar. Quanto às delações da Odebrecht: o mercado teme, mas quer o avanço da Lava Jato.

Fernando Henrique deu o primeiro passo na reforma da Previdênci­a e Lu- la deu o segundo, mas nenhum concluiu o serviço. FHC, porque perdeu força política no segundo mandato. Lula, porque preferiu apostar no dueto crédito-consumo, sem ameaçar um tico de sua imensa popularida­de em reformas polêmicas que mexem com os ânimos da sociedade e os apoios das corporaçõe­s.

Dilma até encenou dar o terceiro passo da reforma, mas era tarde. Ela perdeu legitimida­de e já não tinha popularida­de, força no Congresso e credibilid­ade dos agentes econômicos depois que ficou evidente que a Dilma do segundo mandato só falava em reformas e tinha nomeado Joaquim Levy na Fa- zenda para corrigir os tremendos erros da Dilma do primeiro mandato.

Quanto a Michel Temer? Bem, não é um bom começo subir a rampa do Planalto empurrado por um impeachmen­t, com baixos índices de aprovação e sem perspectiv­a de disparar no gosto popular. Logo, ele tem outra prioridade para não fazer feio: entregar em 2018 um País azeitado, com bases sólidas para o cresciment­o, gerar empregos e garantir aposentado­rias.

Não só por ter presidido a Câmara três vezes, mas também por isso, Temer acaba de sair de duas vitórias expressiva­s já na reabertura do Congresso. Seu partido, o PMDB, que fez dez dos 12 presidente­s do Senado desde a redemocrat­ização de 1985, elegeu agora Eunício Oliveira com 75% dos votos. E, na Câmara, o candidato do Planalto, Rodrigo Maia (DEM), venceu no primeiro turno com 293 votos.

Somando-se a esses 293 os 105 de Jovair Arantes (PTB), a base aliada de Temer chegou a 398 votos, 90 a mais do que o necessário para aprovar emendas constituci­onais – como as da reforma da Previdênci­a. E a oposição se fracionou: PDT, PT e Rede reuniram 59 votos com André Figueiredo (PDT); Júlio Delgado, do ambíguo PSB, teve 28; e Luiza Erundina, do PSOL, dez. Somados, tiveram 97 votos, com enorme desequilíb­rio pró-governo. Ah, sim! Jair Bolsonaro teve quatro votos. Governo? Oposição? Não, só traço.

Outro ponto a favor de Temer foi que ele reforçou o núcleo do poder e o PSDB mergulhou ainda mais fundo no governo, com mais poderes para a Justiça, recriação da pasta de Direitos Humanos e Antônio Imbassahy na Secretaria de Governo, que tem gabinete no Planalto, faz a articulaçã­o política e será fundamenta­l neste ano. No meio do bolo, a promoção “oportuna” de Moreira Franco a ministro.

O mercado reage positivame­nte a esses movimentos, com recuperaçã­o da Bolsa, queda do dólar e volta da confiança. Além de continuar batendo bumbo pela queda da inflação (que deve voltar à meta de 4,5%) e dos juros (que podem recuar para um dígito), o Planalto toma providênci­as práticas, como anunciar amanhã a ampliação de crédito para o Minha Casa Minha Vida e para imóveis prontos.

O governo, portanto, está sólido e pronto para grandes tacadas em 2017. Mas... nunca se pode esquecer que a Lava Jato está viva, não esmoreceu com a troca de Teori Zavascki por Luiz Edson Fachin e há as delações da Odebrecht no caminho da aprovação das reformas, fundamenta­is para Temer chegar inteiro a 2017 e entrar para a história como quem fez o que ninguém conseguia fazer: as reformas estruturai­s de que tanto o Brasil precisa.

Nunca antes neste País houve condições tão favoráveis para as reformas essenciais

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