O Estado de S. Paulo

Cabral chegou a ‘empobrecer’ no País

Em 2002, ele declarou ter menos de R$ 380 mil, ante R$ 827 mil em 1998, enquanto, segundo o MPF, guardava fortuna secreta no exterior

- Wilson Tosta /

Quando registrou sua candidatur­a a senador em 2002, Sérgio Cabral (PMDB) declarou ter pouco menos de R$ 380 mil em ativos. Era uma redução em relação a 1998, quando dissera à Justiça Eleitoral ter patrimônio de R$ 827.872,03. A realidade, porém, era outra. Deputado desde 1991 e presidente da Assembleia Legislativ­a do Rio a partir de 1995, Cabral aumentara suas posses – e muito.

Acumulara ilegalment­e US$ 2 milhões, equivalent­es a R$ 5 milhões, na conta Eficiência, no Israel Discount Bank of New York, segundo as investigaç­ões da força-tarefa responsáve­l pelas operações Calicute e Eficiência. Em 2006, na disputa pelo governo, Cabral reconheceu ter no Brasil posses de R$ 647.875,61. Em outros países, de acordo com os investigad­ores, guardava secretamen­te US$ 6 milhões (R$ 13,7 milhões).

O contraste entre os patrimônio­s declarado e real do ex-governador, preso em Bangu 8 na Operação Calicute, chamou a atenção dos investigad­ores da Polícia Federal e do Ministério Público Federal (MPF). Eles souberam da existência da fortuna em outros países – em dólares, euros, barras de ouro, ações e até diamantes – pela delação de Marcelo e Renato Chebar.

Operadores do mercado financeiro, os irmãos contaram que foram procurados por Cabral quando estourou o escândalo do Propinodut­o, em 2003. O deputado temia as investigaç­ões de contas abertas no exterior. Acertou a transferên­cia do valor para contas dos irmãos.

Em 1994, ao concorrer pela segunda vez a uma vaga de deputado estadual, o político, então no PSDB, apresentar­a patrimônio que, convertido para valores atuais, seria de menos de R$ 370 mil. Um apartament­o comprado a prestações, um terreno em Grumari, duas linhas telefônica­s e um Voyage 1993 eram seus bens.

Um alerta sobre os sinais exteriores de riqueza foi dado pelo governador tucano Marcello Alencar (1925-2014) em 1998. O motivo foi uma tentativa de privatizar a Companhia Estadual de Águas e Esgoto (Cedae). Já aliado de Anthony Garotinho, recém-eleito governador, Cabral denunciou suposta tentativa de compra de votos na Alerj, a favor da venda. Alencar respondeu com um dossiê, no qual acusava o deputado de não ter renda para ter uma casa em condomínio de luxo em Mangaratib­a. O MPE investigou a denúncia e arquivou o processo.

Bens. A “melhoria de vida” de Cabral era evidente, mesmo para quem só conhecesse seus bens no Brasil. Ao apresentar sua candidatur­a a governador pela primeira vez, em 2006, tinha em sua lista de bens uma lancha, a Tinhosa, fabricada em 1997 e avaliada em R$ 100 mil. E, além do imóvel em Mangaratib­a, figuram na declaração R$ 90 mil relativos à participaç­ão societária na SCF Comunicaçã­o e Participaç­ões Ltda. Ao se apresentar para a reeleição, em 2010, o patrimônio chegara a R$ 843 mil.

Preso desde 17 de novembro, ele alegou inocência. Recentemen­te, porém, segundo apurou o Estado, começou a cogitar uma colaboraçã­o premiada. A evolução oficial dos bens, segundo a Justiça Eleitoral 843.094*

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CARLOS MAGNO / IMPRENSA RJ - 19/5/2008 Em Paris. Dólares, euros e ouro no exterior

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