Velório de Marisa é marcado por tom político
Em discurso, Lula diz que sua mulher ‘morreu triste’ e cobra pedido de desculpas
Ex-ministros, deputados, dirigentes sindicais, governadores e simpatizantes do PT participaram ontem do velório da primeira-dama Marisa Letícia na quadra do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. A mulher do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva morreu anteontem, aos 66 anos, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, em decorrência de um acidente vascular cerebral (AVC).
A fila para cumprimentar Lula deu a volta no quarteirão. De pé ao lado do caixão, que recebeu uma bandeira do PT e outra do Brasil, o ex-presidente abraçou um a um. Na coroa de flores enviada pelo próprio Lula, liase a mensagem: “Minha galega: agora o céu ganha a estrela que iluminou minha vida”. Ao discursar, homenageou a companheira, com quem foi casado por 43 anos. “Marisa foi mãe, foi pai, foi tia, foi tudo”, disse Lula. “Sou o resultado de uma menina que parecia frágil e que me deu a garantia de que eu pudesse viajar para ajudar a criar o PT”, disse, emocionado, ao lado de um dos filhos.
O ex-presidente também afirmou que Marisa “morreu triste” pela “canalhice” e “maldade” que fizeram com ela. Sem nominar ninguém, cobrou pedido de desculpas. “Quero que os facínoras que levantaram leviandades contra ela tenham um dia a humildade de pedir desculpas.”
O tom político também permeou o discurso do bispo emérito de Blumenau (SC), dom Angélico Sândalo Bernardino, que criticou as reformas trabalhista e previdenciária do governo de Michel Temer. “Atentem para que essas reformas sejam contra os pobres e os assalariados.”
Ele também afirmou que Lula está sendo “perseguido” e sem direito de defesa.
Solidariedade. A presidente cassada Dilma Rousseff esteve no local no fim da manhã. Já o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Temer e o ministro José Serra (Relações Exteriores) visitaram Lula na quinta-feira, no Hospital Sírio Libanês, após o agravamento do quadro de saúde de Marisa Letícia, mas não compareceram ao velório.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) falou sobre o encontro entre Temer e Lula, o primeiro desde o impeachment de Dilma, e rechaçou a possibilidade de abertura de diálogo entre eles. “É precipitado dizer que isso vai acarretar em um entendimento na política. Vamos bater duro na reforma da Previdência e consideramos Temer um presidente ilegítimo”, disse Farias.
Já o vereador e ex-senador Eduardo Suplicy (PT) avalia que a visita de Temer a Lula no hospital pode abrir caminho para o diálogo. “Nesse momento de desavenças tão profundas, a morte de dona Marisa pode criar essa vontade de se conversar mais sobre o Brasil.”
Um dos fundadores do PT, o deputado federal Vicentinho (PT-SP) comentou que “sinceridade era a característica” da primeira-dama. “Quando tinha de dar umas duras, ela dava.”
Pela manhã, uma equipe da TV Globo foi hostilizada por parte dos presentes. A equipe deixou o local, e o sindicato pediu que o dia não fosse de “confusão com a imprensa, mas de silêncio”.
Cremação. Terminada a cerimônia, Lula e os familiares foram para o Cemitério das Colinas, também em São Bernardo do Campo, onde o corpo de Marisa foi cremado. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos, 20 mil pessoas passaram pelo velório.