O Estado de S. Paulo

Um em cada três casos de câncer atinge pessoas com menos de 40 anos

- Fabiana Cambricoli

Sem nenhum histórico de câncer na família e com os exames de rotina geralmente normais, a radialista Ana Paula Suzuki tomou um susto ao receber um diagnóstic­o de suspeita de um tumor de mama aos 38 anos. Os próprios médicos duvidavam que o nódulo era maligno, consideran­do o tamanho do caroço e a pouca idade de Ana.

Por insistênci­a da radialista, exames mais aprofundad­os foram feitos e o diagnóstic­o confirmou o receio dela. O nódulo era, de fato, um câncer de mama, de um tipo agressivo, que exigiu cirurgia, quimiotera­pia e radioterap­ia.

Embora o envelhecim­ento seja um dos principais fatores de risco para o aparecimen­to do câncer, a ocorrência da doença entre adultos jovens não é tão incomum e tem aumentado nos últimos anos, de acordo com especialis­tas. Dados inéditos de um levantamen­to do A. C. Camargo Cancer Center, centro de referência, mostram que 30% de todos os tumores tratados na instituiçã­o entre 2000 e 2012 ocorreram em pacientes com até 40 anos. Foram 17.871 pessoas com o diagnóstic­o da doença no hospital no período, dos quais 4.332 tinham entre 19 e 40 anos e outros 1.149 estava na faixa até os 18 anos.

Para os médicos, duas razões explicam o cresciment­o de câncer em jovens: o aumento do diagnóstic­o precoce e uma maior exposição a fatores de risco, como obesidade, sol, tabagismo e infecções por alguns tipos de vírus.

“O câncer ainda é uma doença de predomínio em pessoas mais velhas, mas hoje em dia te- mos mais exposição a agentes carcinógen­os do que antigament­e”, diz Ademar Lopes, cirurgião oncologist­a e vice-presidente do A. C. Camargo.

Para Riad Younes, diretor do Centro de Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, alguns desses fatores começam a estar presentes mais cedo na vida das pessoas. “Décadas atrás não tínhamos esse nível de poluição nas cidades. Também não tínhamos tanta obesidade na adolescênc­ia. Quanto mais cedo a pessoa entra em contato com esses agentes, mais cedo ela poderá desenvolve­r um câncer”, explica Younes.

Susto. Para Ana Paula, receber o diagnóstic­o da doença foi um choque para ela e a família. “É como se fosse uma bomba, fiquei bem chateada, saí do médico e só chorava. O tratamento também foi uma fase difícil, pelas dores físicas e psicológic­as, mas sempre fui uma pessoa muito otimista, então não me entregava”, conta ela. Hoje com 42 anos, ela ainda faz acompanham­ento médico, mas não há resquício do tumor desde 2013.

Segundo os dados do A. C. Camargo, o câncer de mama foi o segundo tipo mais comum entre mulheres na faixa dos 19 aos 40 anos, só atrás do de tireoide. O terceiro mais prevalente foi o de colo do útero. Entre as mulheres de mais de 40 anos, o de mama é o campeão de casos.

Já entre os homens com idade entre 19 e 40 anos, os tipos mais frequentes no hospital foram o de pele tipo melanoma, de tireoide e de testículo, este último muito mais comum entre jovens do que entre pacientes mais velhos.

O empresário Guilherme Salgueiro, de 33 anos, foi uma das vítimas desse tipo de tumor. “Senti uma dor forte no testículo e decidi ir ao médico. Como descobri cedo, bastou a retirada do testículo onde estava o tumor e fiquei curado. É colocada uma prótese no local e não há nenhuma sequela. Tenho uma vida normal”, conta.

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RAFAEL ARBEX /ESTADÃO Novos hábitos. Após ter câncer na tireoide, Manuela Alves mudou sua rotina e passou a cuidar mais da própria saúde

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