FOLIA DE ESCRITORES TEM VIAGEM E POESIA
Beatriz Bracher, Miguel Sanches Neto, Claudio Willer, Marcelino Freire e Milton Hatoum contam memórias
Beatriz Bracher tinha 14 anos quando viveu seu carnaval favorito. “Foi em Salvador, em 1975. Pulei os quatro dias atrás de vários trios elétricos, com amigos muito queridos, sem abadá, com muita alegria”, conta. “Os motivos ( para elegê-lo o melhor da vida) são estes: amigos queridos, trio elétrico, Salvador e, talvez o principal, os 14 anos.”
Claudio Willer relembra de uma viagem, em 1945 ou 1946. “Eu tinha quatro ou cinco anos de idade? De automóvel para o Rio, meus pais e casal de amigos, nem tinha Via Dutra, viagem longa, pernoite em Barra Mansa. Hotel Leblon na Niemeyer, no pé da Gávea. Música da vez era Chiquita Bacana. Visitamos tudo: Pão de Açúcar, Corcovado, Jardim Botânico, Quinta da Boa Vista. No centro, Cinelândia, lembro de havermos cruzado com escola de samba, desfilavam na rua”, narra. “Houve outros bons carnavais. De 1970, com namorada e família, passeio a Teresópolis e cruzamos com a Mangueira nas ruas do centro, fazia desfile extra comemorando ter sido campeã aquele ano. Houve muitos outros.”
Também teve estrada no carnaval de Marcelino Freire. E poesia. Em 1996, ele e dois amigos, o poeta Edson Cruz e o engenheiro Sourak Aranha, aproveitaram o feriado para viajar mais de 1 mil quilômetros, de carro. “Só para visitar, em Campo Grande, o poeta Manoel de Barros”, afirma. “Passamos as folias ao lado dele e de seus musgos, versos e caramujos. A partir desta data, mantive com Manoel uma duradoura amizade e uma parceria cheia de admira- ção e de afeto.”
Freire conta que já mantinha contato, via carta, com Barros. E, eventualmente, por telefone. “Liguei para ele, avisei de nossa viagem. Ele falou que estaria em casa e nos recebeu. Passamos o carnaval inteiro por lá. E nos encontramos uns três dias”, diz. “Quem foi dirigindo foi o Sourak – tanto eu quanto o Edson Cruz não sabemos dirigir. O mais incrível é que uma bailarina e atriz, chamada Júlia Pascale, teve a mesma ideia. Ela aproveitou o carnaval para ir dançar um poema para o Manoel. Aí teve a noite de apresentação dela para ele. Assistimos e documentamos tudo. Aliás, eu tenho várias fitas com imagens disso. Um dia eu vou editar essas imagens. Daria um curta. Lindo, lindo.”
Tristeza carnavalesca. O “único carnaval realmente inesquecível” de Miguel Sanches Neto foi o de 1981. “Passei no clube de minha cidade, o Peabiru União Clube ( em Peabiru, no interior paranaense). Tínhamos um bloco de acidentados, cada um com partes do corpo engessadas ou enfaixadas, o que explica um pouco a tristeza carnavalesca dos paranaenses. Aos 16 anos, já estávamos nos preparando para as pancadas que levaríamos vida afora. Este é o meu carnaval sem nenhuma alegria.”
Milton Hatoum ressalta que importantes foram “todos os carnavais da juventude manauara”, nos anos 1960. Ele diz que “a filmagem de um baile de carnaval na minissérie Dois Irmãos ( da Globo, baseada em seu livro homônimo) é bem fiel à época e ao carnaval manauara”. Já Liliane Prata conta que geralmente aproveita o carnaval para “ficar em casa”.