Curso de Veterinária online revolta conselho
Centro universitário afirma ter cumprido todas as regras; Ministério da Educação promete rever graduação, criticada também por donos de pets
A criação de um curso de Medicina Veterinária a distância em um centro universitário particular de Santa Catarina causou polêmica nas últimas semanas entre órgãos de classe e amantes de animais. É a única graduação desse tipo no País. O Ministério da Educação (MEC) promete rever a autorização para o curso.
O Conselho Federal de Medicina Veterinária enviou documento ao MEC contrário à novidade. “Para nós, é um verdadeiro estelionato”, critica Benedito Fortes de Arruda, presidente da entidade. “Esperamos que tenha sido algum erro de informação, caso contrário usaremos de todos os meios legítimos e legais para impedir essa aberração”, afirma.
A permissão para criar a graduação online foi dada à Facvest em dezembro, com 500 vagas autorizadas por turma. De acordo com Geovani Broering, reitor da universidade, foram seguidas “todas as normas e todos os passos necessários para a criação do curso”.
Apesar do aval, a instituição não havia aberto inscrições. Fora do País, segundo o reitor, existem cursos online até na área da Medicina humana. A universidade informou que, diante da resistência, não vai oferecer matrículas para o curso.
Em nota, o MEC afirmou que não existe impedimento legal para criar o curso de Veterinária ou outros na modalidade a distância. Centros universitários têm prerrogativa de autonomia para criar os cursos, presenciais e EAD, e devem apenas informá-los devidamente.
Mas, segundo a pasta, no caso da Facvest, mesmo sendo um centro universitário, a faculdade aderiu em 2014 ao Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento das Instituições de Ensino Superior (Proies), do Ministério da Fazenda. Por isso, não poderia abrir novos cursos, já que a inclusão no programa suspende a autonomia da instituição.
O MEC cobrou esclarecimentos da Fazenda Nacional e da Facvest sobre a medida. Por enquanto, a pasta decidiu suspender a graduação.
Repercussão. Mesmo que o curso seja aprovado, dificilmente teria aceitação do mercado. Médica veterinária há oito anos, Mariane Brunner defende atuação prática e humanização para formar novos profissionais. “O tempo gasto na faculdade dentro do hospital-escola foi essencial na minha formação e permitiu a percepção de como uma doença pode se comportar de modos diferentes”, conta.
Já a professora da rede municipal Marta Fátima Valejo afirma que não confiaria seus animais de estimação – seis gatos e nove cães – a médicos com formação online. “Não passaria nem na porta”, afirma. “Ele ( o profissional) tem de estar com o animal e haver essa interação. É mais importante do que a literatura”, completa.