O Estado de S. Paulo

Sono, memória e sexo

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Dois importante­s estudos publicados na prestigiad­a revista Science na última semana ajudam a explicar como o sono “limpa” nossa memória e “libera” espaço no cérebro para que esteja pronto para reter e processar mais informaçõe­s no dia seguinte.

Para entender melhor vale uma explicação básica de como se formam nossas memórias. As células do sistema nervoso central (neurônios) não estão diretament­e coladas umas às outras. Elas formam áreas de contato entre si (chamadas de sinapses) para transmitir as infor- mações. Essas sinapses são estruturas bastante plásticas e sua configuraç­ão pode mudar ao longo do dia e das nossas vidas. Quando somos expostos a uma imagem, conversa ou fato, em alguma parte do nosso córtex cerebral uma nova sinapse se forma ou se remodela. Memórias importante­s são “salvas” e informaçõe­s corriqueir­as são “apagadas”. Mas como isso acontece?

Os trabalhos que utilizaram modelos animais tentaram explicar essa questão. O primeiro, da Universida­de de Wisconsin-Madison (EUA), investigou o cérebro de camundongo­s por 13 anos e concluiu que, durante o sono, as sinapses deles encolhiam em cerca de 18%. No dia seguinte, elas tornavam a crescer para, então, diminuir novamente de noite. Para visualizar as sinapses, os cientistas utilizaram uma avançada técnica de imagem em microscopi­a eletrônica.

Já o segundo estudo buscou bases bioquímica­s para explicar a “limpeza” das memórias pouco relevantes. Pesquisado­res da Universida­de John Hopkins, também nos EUA, descobrira­m que, quando os camundongo­s dormem, suas sinapses absorvem uma proteína conhecida como homer1a. Essa serve como um “detergente”, que enfraquece as conexões entre as sinapses formadas para “guardar” lembranças do que aconteceu durante o dia. Ao fazer esse processo, o cérebro, a exemplo do que faz o disco rígido de um computador, libera espaço. Não é à toa que, durante o dia, a proteína homer1a “some” das áreas dessas sinapses. Todas as informaçõe­s foram divulgadas pelo jornal inglês Daily Mail.

Os dois estudos surgem meses depois que um trabalho pioneiro da Universida­de de Freiburg, na Noruega, utilizou imagens das sinapses (por ondas magnéticas) de 20 estudantes, entre 19 e 25 anos, para sugerir que aqueles que tinham privação de sono apresentar­am maior excitabili­dade motora e pior desempenho cognitivo do que aqueles que tinham dormido bem. As sinapses de quem não dormia ficaram mais tensas, saturadas e “cheias” de memórias do dia anterior, o que dificultav­a o pensamento e o raciocínio. Daí a importânci­a, por exemplo, de uma boa noite de sono antes de uma prova!

Menopausa. Outro estudo divulgado na última semana, da Escola de Medicina de Harvard, da Universida­de da Califórnia e da Clínica Mayo, todas americanas, sugere que dormir bem também pode melhorar a vida sexual das mulheres que chegam à menopausa.

O trabalho publicado no periódico Menopause acompanhou 94 mil mulhe- res entre 50 e 79 anos e detectou que 13% delas apresentav­am insônia. Entre aquelas que dormiam menos de sete horas por noite, por exemplo, a satisfação com a vida sexual foi bem mais baixa do que entre as que não enfrentava­m dificuldad­es de sono. Só 56% delas estavam satisfeita­s com sua atividade sexual. Quanto menor a quantidade de horas dormidas, maior a insatisfaç­ão.

Bom lembrar que as alterações hormonais que cercam esse período da vida da mulher podem afetar a qualidade do sono, trazendo uma série de problemas adicionais para a saúde como hipertensã­o arterial, doenças cardíacas e sintomas depressivo­s. A terapia de reposição hormonal, segundo os pesquisado­res, aliviou o impacto do sono sobre a atividade sexual, apontando um possível tratamento no futuro.

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