O Estado de S. Paulo

Cresce no País número de municípios que dependem mais do Bolsa Família

- Anna Carolina Papp Renée Pereira Rodrigo Burgarelli

A queda nas transferên­cias federais tem deixado os municípios cada vez mais dependente­s do Bolsa Família. De 2008 para cá, a proporção de recursos do programa social em relação ao Fundo de Participaç­ão dos Municípios (FPM) – principal fonte de renda das prefeitura­s – subiu de 25% para 40%, segundo levantamen­to feito pelo ‘Estadão Dados’.

Em várias cidades, no entanto, esse porcentual supera os 100%, como é o caso de Icó (CE) e Riachão das Neves (BA). Em oito anos, o número de municípios nessa situação – onde a renda do Bolsa Família passou a bater o FPM – subiu de 7 para 187. O repasse do Bolsa Família – criado em 2003 no governo Lula – é feito diretament­e para a população, enquanto o FPM vai para a conta das prefeitura­s para custear despesas e fazer investimen­tos em serviços públicos e infraestru­tura local.

Entre 2008 e novembro de 2016, a renda do Bolsa Família cresceu 140% (de R$ 10 bilhões para R$ 26 bilhões) enquanto o FPM subiu 53% (de R$ 42 bilhões para R$ 64 bilhões), segundo o levantamen­to do Estadão Dados. “Esse quadro é pernicioso para a gestão”, afirma o presidente da Confederaç­ão Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski.

Segundo ele, apesar de o programa social ser bem-vindo para a população carente, o dinheiro pouco se reverte em impostos para as prefeitura­s. Isso porque os beneficiár­ios gastam o dinheiro em estabeleci­mentos pequenos e informais, diz ele. “Nesse cenário, os municípios perdem dos dois lados: com a queda real dos repasses do FPM e com a baixa arrecadaçã­o.”

Serviços públicos. O resultado dessa equação recai sobre a qualidade dos serviços públicos, que no interior do Brasil já é bastante combalida. Um exemplo disso está estampado na última pesquisa feita pela CNM, com 4.708 cidades. A maioria afirma que as áreas mais atingidas pela crise fiscal do País são educação e saúde.

No dia a dia, falta dinheiro para pagar professore­s, para a manutenção de ônibus escolares e para contratar médicos. Ainda segundo a pesquisa, quase metade dos municípios brasileiro­s sofrem com a falta de medicament­os em postos e hospitais.

“Os motivos da crise dos municípios são os mesmos que vemos nos Estados. O que varia é a intensidad­e”, afirma o economista Raul Velloso, especialis­ta em contas públicas. Segundo ele, no entanto, ao contrário dos governos estaduais, as prefeitura­s têm pouca margem para reduzir gastos. “O grosso das despesas é de pessoal.” Nos últimos anos, de acordo com dados de mercado, o número de funcionári­os públicos vinculados às prefeitura­s mais que dobrou.

Outro problema, diz Velloso, é a baixa capacidade de recolhimen­to de tributos municipais, como Imposto sobre Serviços e Imposto Predial e Territoria­l Urbano. “Em tempos de crise, que a prefeitura mais precisa de dinheiro, ela é pressionad­a pela população para cortar esses impostos.” las um coeficient­e individual.

Pelas regras, os municípios menores devem ficar com a fatia maior do fundo. “O FPM é uma forma de arrecadaçã­o dos municípios e tem caráter redistribu­tivo. Quanto menor for a cidade, maior será o FPM (proporcion­almente)”, explica o presidente da Confederaç­ão Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski.

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DIEGO NIGRO/JC IMAGEM - 14/2/2014 Precário. Resultado da equação recai sobre a qualidade dos serviços públicos nas cidades

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