O Estado de S. Paulo

Montadoras aumentam sua aposta no Brasil

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Apesar da crise, que reduziu em 20,2% as vendas de veículos em 2016 em comparação com o ano anterior, a indústria automotiva instalada no País continua acreditand­o no potencial do mercado interno e na possibilid­ade de aumentar as exportaçõe­s a partir do Brasil. Essa é a interpreta­ção que fazem os analistas dos dados recentes do Banco Central (BC) revelando que as filiais brasileira­s de montadoras estrangeir­as receberam investimen­tos diretos de US$ 6,5 bilhões de suas matrizes em 2016. A esse total se somam outros US$ 5,3 bilhões que ingressara­m sob a forma de empréstimo­s intercompa­nhias, elevando o total do socorro financeiro de fora para US$ 11,8 bilhões.

A maior parte dos investimen­tos diretos no setor não foi utilizada para capitaliza­ção, segundo Antonio Magale, presidente da Associação Brasileira de Fabricante­s de Veículos Automotore­s (Anfavea), mas para desenvolvi­mento e produção de novos modelos e até para a implantaçã­o de novas fábricas. Quanto aos empréstimo­s tomados com as matrizes, essa foi uma alternativ­a para evitar o pesado custo dos empréstimo­s no País. Nota-se, a propósito, que empresas estrangeir­as de outras áreas também assim agiram, tendo o total de créditos de matrizes no exterior para filiais no País atingido US$ 22,12 bilhões em 2016, de acordo com o BC.

O volume da ajuda financeira das matrizes contrasta com o valor pífio das remessas de lucros pelo setor automotivo do País, que não passou de US$ 86 milhões em 2016, presumivel­mente para pagamento de royalties.

Esse resultado está longe de remunerar o capital investido, mas convém lembrar que, quando as matrizes das montadoras passaram por severa crise nos seus países de origem, as remessas de lucros pelas filiais no Brasil foram de bilhões de dólares por anos a fio, atingindo os picos de US$ 5,614 bilhões em 2008 e US$ 5,581 bilhões em 2011.

As empresas do setor estão habituadas a ciclos e não há indicação de que estejam inclinadas a deixar o Brasil, que já foi o quarto mercado mundial para a indústria.

As projeções da Anfavea são de um cresciment­o de 11,9% na produção em 2017, podendo atingir a marca de 2,41 milhões de veículos, com certa recuperaçã­o do mercado interno e um cresciment­o de 7,2% das exportaçõe­s, que podem atingir a quantidade recorde de 552 mil unidades. A disputa pela Via Varejo, do Grupo Pão de Açúcar, está esquentand­o. A americana BestBuy é mais uma que, segundo fontes, está de olho no ativo. A francesa Fnac é outra citada, embora o porte da rede de 12 lojas - e que há um ano trocou de comando no Brasil - seja pequeno comparado aos 970 pontos da Via Varejo. As ofertas formais, no entanto, ainda não foram feitas.

Permanecem com apetite pela Via Varejo a chilena Falabella e a brasileira Lojas Americanas. No setor de varejo e no mercado financeiro, as apostas são justamente no poderio da Lojas Americanas para levar a rede dona das Casas Bahia e do Pontofrio, em especial em razão de seu porte já grande e pela fama dos controlado­res, os brasileiro­s da 3G: Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.

Diante de maior aversão ao risco dos investidor­es, o próprio controlado­r da Movida, a JSL, poderá comprar uma fatia dos papéis, de cerca de 15%, que estão sendo vendidas ao mercado na oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da locadora de veículos. Além disso, a companhia cortou o preço do papel no âmbito de sua oferta para R$ 7,50, segundo fontes, ante uma taxa indicativa de preço entre R$ 8,90 a R$ 11,30. Com isso, as portas se abrem para a primeira listagem de ações da Bolsa brasileira de 2017.

Investidor­es minoritári­os insistem na divulgação da remuneraçã­o de executivos de empresas de capital aberto. A Amec, associação que representa esses acionistas, solicita agora à Comissão de Valores Mobiliário­s (CVM) que as companhias publiquem os nomes dos executivos que se beneficiam de liminar conquistad­a pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef) e que estes comprovem que são associados à entidade. Trata-se de uma decisão que o Ibef conseguiu na Justiça suspendend­o a divulgação da remuneraçã­o.

Essa divulgação é um dos temas mais discutidos hoje no mercado. O Ibef utiliza a tese de que abrir a remuneraçã­o dos administra­dores violaria a intimidade e privacidad­e dos executivos. Na prática, a regra da CVM impõe a divulgação da remuneraçã­o máxima, média e mínima por órgão da administra­ção. A despeito da polêmica, grande parte das empre- sas listadas no Novo Mercado, que é o segmento de maior exigência de governança corporativ­a da BM&FBovespa, já cumprem essa regra. O iCarros, site de classifica­dos para compra e venda de veículos do Itaú Unibanco, tem novo comando. Ricardo Bonzo Filho, que retorna ao conglomera­do após quatro anos, assume a presidênci­a da empresa no lugar de Sylvio de Barros. Um dos focos de sua gestão será explorar o potencial de cresciment­o da plataforma. Além do Itaú, onde atuou por mais de uma década, Bonzo tem passagens por Bank Boston, Banco Volkswagen e MAN Latin América.

A saída de Barros será acompanhad­a pela do diretor de Marketing e Produtos, Fernando Ortenblad. Os dois vão se dedicar à criação da Zflow, startup de tecnologia voltada para o setor automotivo. Ambos, porém, seguem no conselho do iCarros.

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