O Estado de S. Paulo

‘Sistema tributário brasileiro rouba pontos do PIB’

Proposta do economista Bernard Appy prevê substituir impostos de bens e serviços por alíquota aos moldes do IVA, utilizado no exterior

- Douglas Gavras

Para o economista Bernard Appy, o sistema tributário brasileiro está completame­nte disfuncion­al – e roubando pontos do PIB. “O custo burocrátic­o para pagar impostos é extremamen­te elevado no País. O Brasil é campeão mundial em tempo gasto para pagar imposto. O trabalho produtivo exigido das empresas está acima do padrão.”

A mudança no sistema tributário em estudo pela equipe à frente do Centro de Cidadania Fiscal, comandada pelo economista, poderia significar um acréscimo de até 10% no PIB pelos próximos 15 anos.

De acordo com Appy, que foi secretário executivo e de Política Econômica do Ministério da Fazenda entre 2003 e 2009, é preciso corrigir várias distorções do sistema atual, sobretudo modificar a teia de tributos sobre bens de serviços, que seriam unificados em um imposto, aos moldes do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), utilizado em diversos países, que teria receita compartilh­ada entre União, Estados e municípios.

“Essa nova alíquota, neutra, não geraria distorções setoriais, ao eliminar quatro tributos do Brasil que cumprem essa função: ICMS, PIS/Cofins, ISS e IPI”, explica.

A proposta imagina uma transição em que se criaria o Imposto Geral sobre o Consumo, como o IVA, que operaria com uma alíquota de 1% durante dois anos e seria aumentada ao longo do tempo, até que substi- tuísse os impostos a serem eliminados. A transição estaria prevista para ocorrer em um intervalo de dez anos.

“O modelo seguiria um conceito semelhante ao que foi utilizado durante o Plano Real, só que por um período mais longo. A transição é necessária, porque várias empresas têm benefícios no sistema tributário atual e é preciso tempo para ‘digerir’ mudanças mais profundas.”

Ao lado das reformas da Previdênci­a trabalhist­a e da PEC do Teto de gastos, a revisão tributária é tida pelos economista­s como prioridade do atual governo para o País se modernizar e voltar a crescer.

“Para aprovar, é preciso que o governo tenha força política, até para garantir que o modelo seja simples, neutro, igual para todo mundo. O risco sempre é surgir um monte de exceções nos modelos, que poderiam ge- Prioridade rar maiores distorções. É preciso que o Executivo tenha capital político.”

Na visão de Appy, no entanto, a resistênci­a à reforma tributária diminuiu bastante nos últimos anos, tanto na iniciativa privada quanto nos Estados.

“Boa parte das empresas percebeu que às vezes é melhor per- der benefícios de um regime disfuncion­al para ter condições competitiv­as mais igualitári­as. Entendeu-se que é preciso ceder para ter um regime neutro. Do ponto de vista dos Estados, também há uma percepção de que os benefícios se tornaram disfuncion­ais, como a guerra fiscal generalizo­u, ela deixou de ser instrument­o de atração.”

Na mesa. Conforme já divulgado pelo Estado, foi apresentad­a na Câmara uma proposta de reforma, cuja relatoria é do deputado Luiz Carlos Hauly (PSDBPR), que prevê a extinção de sete tributos federais (IPI, IOF, CSLL, PIS, Pasep, Cofins e salário-educação), do ICMS (esta- dual) e do ISS (municipal). Em troca, seriam criados três: o IVA, o Imposto Seletivo e a Contribuiç­ão Social sobre Operações e Movimentaç­ões Financeira­s (espécie de CPMF).

Uma outra proposta, do economista Aloisio Araujo, que é professor da EPGE, escola de pós-graduação da Fundação Getulio Vargas (FGV), defende que os superávits que passarão a ser gerados com o teto no cresciment­o das despesas do governo federal sejam usados para viabilizar a reforma. Ele prevê o uso de parte da economia de recursos gerada pelo teto para reduzir a carga tributária e, ao mesmo tempo, ampliar a fatia de Estados e municípios.

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FELIPE RAU/ESTADÃO - 31/3/2016 Benefícios. Segundo Appy, resistênci­a à reforma diminuiu na iniciativa privada e nos Estados

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