O Estado de S. Paulo

As faces modernas de Anita Malfatti

Com 70 obras, mostra no MAM percorre a trajetória da pintora

- Celso Filho

Foi em um salão na Rua Líbero Badaró, em 1917, que Anita Malfatti ajudou a mudar os rumos do modernismo no Brasil. Na época, recém-chegada ao País, a artista inaugurou uma mostra com suas incursões recentes na arte moderna. Após ser duramente criticada por Monteiro Lobato, em um artigo publicado na mesma época no Estado, Anita foi abraçada pelos modernista­s – que a utilizaram como mártir na eclosão da Semana de Arte Moderna de 1922. A exposição, que, agora, completa cem anos, é o ponto de partida para uma retrospect­iva de cerca de 70 obras, a partir desta quartafeir­a, 8, no MAM.

As duras críticas de Lobato quase acabaram com a carreira de Anita, mas a pintora se desdobrou em diferentes faces ao longo de sua trajetória. São essas experiment­ações com a vanguarda que a retrospect­iva no MAM propõe investigar. “Ela é uma mártir aos olhos do modernismo, mas, hoje, não se pode mais pensá-la dessa maneira”, defende a curadora da exposição Regina Teixeira de Barros.

Com três eixos, Anita Malfatti: 100 Anos de Arte Moderna visita a história da pintora desde a década de 1910, seguindo até sua produção feita nos anos 1940 e 1950.

Entre desenhos e pinturas, uma primeira parte remonta às interações de Anita com as vanguardas históricas a partir de seus primeiros estudos no exterior, os quais resultaram nos trabalhos da polêmica mostra modernista.

“Até 1917, as exposições em São Paulo eram de um modernismo mais moderado. Não havia nada que abalasse o status quo. A partir desse primeiro impacto (com as obras da Anita) é que toda a arte moderna vai se construir”, explica Regina. Naquela época, a artista havia voltado de um período de estudos na Alemanha e nos EUA, onde foi inspirada por movimentos vanguardis­tas, como o expression­ismo e o fauvismo – Anita, por exemplo, foi aluna do representa­nte do expression­ismo alemão Lovis Corinth. Estas influência­s são exploradas na retrospect­iva em trabalhos como O Farol (1915) e O Japonês (1915/16) – que foram expostos em 1917. No mesmo período, ela também começou a expressar as temáticas nacionalis­tas em algumas criações. É o caso do pastel O Homem de Sete Cores (1915/16) ou a tela Tropical, pintada em 1916.

Após a virada na Semana de Arte Moderna, quando conquistou elogios do crítico Sérgio Milliet, ela recebe uma bolsa para estudar em Paris. Durante cinco anos na capital da França, Anita é marcada por uma arte mais naturalist­a e pelos artistas franceses, como Matisse. O pin- tor, por sinal, é uma clara referência para a obra Interior de Mônaco (reproduzid­a nesta página), de 1925. De suas pinturas de paisagens daquela época, também estão menções à obra de Albert Manquet, como em Porto de Mônaco, de 1925.

O terceiro e último bloco da mostra no MAM dá conta do retorno de Anita ao Brasil. De volta, a artista parece muito menos presa às indagações do modernismo dos anos 1920, procu- rando algum tipo de pintura mais espontânea. “Ela não parece mais a mesma justamente por essa abertura que ela sempre teve para o que está sendo feito; em olhar para outros artistas”, explica Regina. São nas viagens a Itanhaém, onde conheceu Emídio de Souza, e a Minas Gerais que ela se encontra com os temas e artistas populares, o que é visto nas pinturas Festa de Georgina, de 1952, e Vida na Roça, de 1956. De novo, uma nova Anita se apresenta.

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ROMULO FIALDINI/DIVULGAÇÃO
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ROMULO E VALENTINO FIALDINI/DIVULGAÇÃO

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